O mahalila, jogo milenar hindu, é para os indianos o que o tarô é para os europeus e o I Ching para os chineses: uma descrição dos estados e as situações pelas quais circula o homem no processo de crescer através da vida.
Para jogar o mahalila precisam-se quatro coisas:
1) o tabuleiro,
2) um dado,
3) estas instruções, e
4) um objeto pessoal como uma medalha, um anel ou uma chave que o jogador utilize freqüentemente e que o representará no jogo.
Ao iniciar, cada jogador coloca seu símbolo na casa 68, Consciência Cósmica (vaikuntha loka) e aquele que tirar o maior número numa primeira rodada do dado lerá para os demais jogadores este texto:
Antes de jogar o jogo estamos na meta final dele, o Ser,
que, sem forma nem nome, é fonte de todo o que existe.
Mas o dado do karma registra as vibrações do jogador,
que logo escolherá uma forma e um nome
para jogar o jogo das escadas e das serpente,
através dos oito níveis do mahalila, o grande jogo,
até voltar à fonte original, onde tudo recomeça eternamente.
Depois, ele joga o dado e o passa para a pessoa à sua direita. Quem tirar um número um move seu símbolo para a primeira casa, nascimento (janma), e lê seu significado em voz alta para os demais jogadores.
Nas próximas etapas do jogo, a cada vez que um jogador tirar um seis, avança sem ler e joga o dado novamente até tirar um número diferente de seis. Somente no último movimento lerá a descrição da casa em que caiu.
Quando o símbolo do jogador cair na base de uma escada, move seu símbolo até o fim dela, lendo a descrição dessas duas casas.
Quando o símbolo cair sobre a cabeça de uma serpente, deve descer até o extremo da cauda, lendo as duas descrições correspondentes.
O objetivo do jogo é chegar à Consciência Cósmica (vaikuntha loka), a casa 68. Se o jogador alcançar a oitava fileira e passar do 68, deve avançar e retroceder entre a casa 69, plano do Absoluto (brahma loka) e a 72, inconsciência (tamoguna), até tirar a cifra exata que o deixe na boca de serpente, que o engolirá e levará de volta para a terra (prthivi), na casa 51.
Lançar os dados simboliza a influência do caos em uma existência que nem sempre acontece dentro de uma seqüência lógica. Cada casa tem um nome e corresponde a um nível de consciência no processo do autoconhecimento. Os nomes das casas levam o jogador a meditar sobre o conceito por trás da palavra e a familiarizar-se com a metafísica hindu como veículo para o auto-conhecimento.
Cada fileira que o jogador ascende como numa espiral, equivale a um chakra, centro de energia no ser humano onde se expressa a energia cósmica, indo desde o mais denso (muladhara) ao mais sutil (sahasrara), e além dele, até o plano da consciência cósmica (chamada no hinduísmo vaikuntha loka, plano celestial), em que se transcende a individualidade.
O jogo conclui quando o jogador cai exatamente na casa 68, Consciência Cósmica (vaikuntha loka), seja através da ascensão numérica, seja pela escada que inicia na casa 54, exercício espiritual (sadhana).
Jogando várias vezes, você irá descobrir circuitos freqüentes, escadas auxiliadoras e serpentes amistosas. Isto é o que torna o mahalila um jogo de auto-conhecimento. Há somente um jogo: o jogo em que cada um de nós é um jogador representando seu papel. Esse é o jogo universal da energia cósmica, mahalila. Após iniciar o jogo, o tabuleiro começa a brincar com a mente, com o ego e com o sentido da própria identidade do jogador.
As casas do jogo
1. Janma: nascimento
Nascer é entrar no jogo. No início não havia jogo, mas a natureza brincalhona da Consciência não pode ficar imóvel por muito tempo e, desde a Unidade, Brahman, o Absoluto, torna-se muitos para jogar o jogo. Este é o jogo do karma, onde o Uno chega a ser muitos jogando o jogo cósmico de esconde-esconde consigo próprio.
2. Maya: ilusão
Jogando, perco a percepção da unidade na fascinação do próprio jogo: estou separado e sou diferente. Dois é a dualidade, e a dualidade acontece quando o um repete a si próprio. Um é realidade. Dois é ilusão. Estou no mundo dos nomes, das formas e os fenômenos, no cenário onde irei inventar minha ação... mas intuo que há uma saída: perceber a ilusão das dualidades.
3. Krodha: ira
Não sei ao certo quem sou, mas sei muito bem quem não sou. Esta corrente de auto-identificação enfrenta inevitavelmente aspectos reprimidos de mim mesmo. Minha identidade vacila. Meu ego está ferido. Minha reação emocional é a ira. A ira produz fogo e o fogo queima tudo. Esta é a cauda da serpente da casa 55, egocentrismo. Projeto em você o que reprimi em mim e concentro então minha energia para eliminar de você esse aspecto indesejável.
4. Lobha: cobiça
Estou separado e sou tão diferente dos outros que me sinto só. Preciso completar-me. Entretanto, confundo o vazio que deixou o Uno ao evaporar-se do jogo, com as necessidades materiais e tento preencher-me satisfazendo-as. Então, se minha necessidade é de uma casa, meu desejo é de cinco. Estou inseguro, e a insegurança provém do medo.
5. Bhur loka: corpo físico
Fui pego pela vibração mais baixa de mim mesmo. Meu único tema é a realização material: meu conforto, minha sexualidade, minha alimentação, minha vontade de satisfazer os sentidos. Mas isso é tão fugaz que devo repetir tudo de novo e de novo!
6. Moha: apego, condicionamento
Desde que nasci fui condicionado pelas circunstâncias de nascimento, tempo e lugar (janma, kala e desha). Deixei de jogar e caí no delírio do apego. A realidade de hoje deve ser a realidade de sempre. Esse apego que me condiciona a ver do jeito que eu sou é a causa real que me traz de volta uma e outra vez às vibrações mais baixas de mim mesmo.
7. Mada: vaidade
Estou auto-intoxicado. Estou intoxicado de mim mesmo. Sou aquilo que os demais dizem de mim. Cheio de falsas identificações de todo tipo, fiquei preso no meu próprio jogo: não entendo como não se cumprem todos meus desejos, sendo eu como sou. As más companhias apenas confirmam a minha auto-intoxicação.
8. Matsara: avareza
A avareza é cobiça mais inveja. Tenho uma aversão ativa contra todos vocês. Sou demasiado bom para vocês e minhas coisas também são demasiado boas para vocês. Até mesmo as coisas que vocês têm são demasiado boas para vocês, pelo que deveriam ser minhas.
9. Kama loka: desejos
Se não houver desejo, não haverá criação. É a pura vontade de jogar a que cria a diversidade. Mas viver satisfazendo desejos é um estado vinculado à ignorância. O verdadeiro vazio não se preenche deste modo.
10. Tapah: purificação
Quero me purificar e consigo isso alterando o comportamento de meus órgãos dos sentidos. Aos poucos, percebo um aumento de nível vibracional que faz minha energia ascender. Fazer um esforço sobre si próprio para purificar-se é a primeira escada do jogo, que nos dá a oportunidade de transcender os apegos vinculados à primeira fileira.
11. Gandharva: divertimento, aroma
Este espaço psíquico freqüente na infância é a expressão natural da minha alegria interior. A criação é uma brincadeira alegre da energia e somente quando nos libertamos da primeira fileira podemos perceber a vida como o riso Daquele que escolheu ser muitos.
12. Amarsha: inveja
Quando minha energia está baixa, observo os demais, começo a me comparar, e a comparação é o veneno que produz a inveja. Porque os outros vibram em planos mais altos que eu? Esta é a primeira serpente do jogo, uma reação destrutiva que me joga de volta para a avareza.
13. Antariksha: nulidade, limbo
Não estou nem na terra nem no céu. Nem aqui nem lá: em parte alguma. Caí na nulidade. Qual é o propósito do meu ser? A angústia existencial flui através da minha consciência. Sou tão insignificante... tudo perdeu o sentido. Os objetivos estão ainda aí, mas, para que servem? Felizmente, a nulidade não é um estado permanente.
14. Bhuva loka: corpo astral
Por um momento, realidade e fantasia se estabilizam entre o que sou e o que poderia ser. Posso ver a estrutura de minhas idéias com total clareza: devo continuar sendo o que sou. Não posso deixar de ser o que sou. Esse é o caminho correto.
15. Naga loka: fantasia
Aqui voa a imaginação: não há nada que não possa fazer. Nada é demasiado fantástico ou estranho. Na brincadeira, despertei as possibilidades. Aqui, mergulhei nelas. Estou materialmente seguro, tenho meu sucesso garantido e, com a maré da autoconfiança, a imaginação criativa pode voar. A fantasia é o poder que está por trás da criatividade.
16. Dvesha: ciúmes, aversão
Perdi a habilidade de distinguir entre o possível e o impossível. Sonho, e acredito que meus sonhos são reais. Este é o apego básico da segunda fileira e é provocado pela minha confusão: minha indulgência com o mundo do fantástico. Minhas dúvidas crescem. Tenho tão pouca autoconfiança que me odeio. Projeto esse ódio sobre todos aqueles que não confirmam minha auto-imagem. A energia baixa. Caí na cobiça.
17. Daya: compaixão
Entrego-me à compaixão com tal potência que meus olhos ficam úmidos, meu coração bate forte e meu ego é varrido com tal força que, por um momento, sou uno com o outro... e isso é ser uno com Brahman. Essa essência da compaixão desapega minha consciência da identidade que escolhi. A vibração da energia assim liberada me eleva ao plano do Absoluto (brahma loka).
18. Harsha loka: alegria
Uma fase está terminada, outra a ponto de começar. Neste momento o espírito da alegria atravessa meu ser. Estou no cume de mim mesmo. No cume do mundo. O tempo desaparece. A alegria é eterna, sempre. Entretanto, breve é sua duração.
19. Karma loka: ação
Enquanto vivo esta existência corpórea não posso deixar de agir. As ações criam seus próprios resultados. Além destas ações naturais, meu ego deseja estender sua influência em círculos crescentes. No entanto, sendo o mundo exterior um espelho de mim mesmo, ao agir descubro as influências familiares, sociais e políticas que criaram minha própria identidade egoística. Então, vejo que a ação é ao mesmo tempo a corrente e a libertação.
20. Dana: caridade
Caridade é compaixão mais ação, uma virtude que quebra os limites da terceira fileira, relativa ao terceiro chakra, manipura. O sentimento de alegria que experiencio ao realizar uma ação caridosa se traduz na transcendência da energia ao plano do equilíbrio (maha loka).
21. Samana papa: penitência
É tempo de grandes inquietudes emocionais. Enquanto gratificava meus desejos egocêntricos provoquei danos aos demais. Agora quero retificar meus karmas negativos. A penitência passa transcende meus desejos materiais e sensuais e por um tempo, produz resultados favoráveis.
22. Dharma: virtude
A virtude é consciência em ação. Quando minha ação é boa para os demais, a minha energia também se eleva. Sou virtuoso quando fluo na ação natural das coisas. Minhas virtudes são as escadas do jogo. Faço ações errôneas quando permito que o ego assuma o controle de mim mesmo. Meus vícios são as serpentes do jogo. O exercício da virtude torna positivo o intelecto e assim vou para a casa 60, positividade (subuddhi).
23. Svarga loka: céu terrenal
Quando vibro aqui, nos céus terrenais, estou fabricando para mim mesmo um paraíso nascido de meus desejos. O que quero é imortalizar minha identidade em uma forma de vida. Vejo um mundo doloroso, mas procuro um prazer infinito. Todas as ideologias, todas as religiões, todas as políticas, me alimentaram neste espaço: o céu é o mundo das utopias.
24. Asatsanga: más companhias
Sei como cheguei aqui: foi buscando identificar meu ego e vim dar com um grupo que em verdade alimenta meu ego. Ao estar com estas pessoas fica claro que meus problemas pessoais acontecem por causa do mundo exterior. Estou em má companhia, e a serpente me devolve para a vaidade.
25. Susanga: boas companhias
Em boa companhia posso crescer, abandonar velhos padrões e programações de conduta, num clima de confiança e compaixão. As boas companhias são o lado positivo da minha necessidade de grupo, porque no grupo minha energia se eleva vibrando junto a dos outros que estão buscando a mesma finalidade.
26. Duhkha: sofrimento, dor
O sofrimento é um dos extremos de minha vida emocional. O outro é a alegria. Percebo a dor como uma repressão que acontece no corpo quando sofro uma perda e a minha energia se bloqueia, como o dragão que morde a própria cauda. O sofrimento é um cobertor que me envolve. Não consigo ver mais nada além do cobertor. É um estado temporário, mas que pode transformar-se em um modo de ser.
27. Paramartha: espírito de serviço
Somente quando deixo de viver para mim mesmo posso entender meu papel no jogo: agora sei que meu ser individual é o veículo através do qual se realiza o Supremo. Agora posso fazer meu papel no jogo sem pensar em direitos, ganâncias ou recompensas: apenas fluindo em minhas virtudes.
28. Sudharma: confiança
Quando me harmonizo com as regras do jogo, minha conduta passa a ser expressão verdadeira de minha natureza. Jogo o dado sem me importar aonde o karma irá me conduzir. Confio na harmonia do jogo, entregando-me às suas regras e vibrando cada vez mais alto.
29. Adharma: fé cega, injustiça, vício
Quando a confiança não se funde na minha natureza interior, mas em um modelo cultural, significa que caí em uma atitude errônea. Penso que meu caminho é o único caminho válido e tento impô-lo aos demais. A fé cega é um vício, e vou descendo, para refletir sobre meus apegos.
30. Uttama gati: boas tendências
As boas tendências fluem em mim de maneira espontânea ao atingir o equilíbrio. Praticando-as, estabilizo e fluo mais ritmicamente, afastando-me das distrações egocêntricas.
31. Yaksha loka: santuário
Quero achar os vínculos que existem entre a vida cotidiana e o divino. Yata Brahmande tata pindade: “assim como é no Ser, assim é no corpo!” Já consigo perceber a unidade entre meu ser mais íntimo e a Alma do Universo (Paramatman).
32. Maha loka: equilíbrio
Quando vibro aqui, consigo equilibrar o feminino que sou com o masculino que também sou. Por momentos, me sinto preparado para identificar-me com o resto da existência. Assim como é dentro, assim é fora! Vivo um sentimento de unidade cósmica.
33. Sugandha: fragrância
A energia que vibra em mim está mudando minha química corporal e meu corpo segrega fragrâncias de sândalo e lótus. E, às vezes, fortes baforadas de enxofre...
34. Rasa: sabor
Até aqui, meu sentido do gosto era uma percepção sensorial. Somente agora entendo seu sentido estético. Esta vibração unifica toda a criação. Vibrando aqui, penetro no mundo das idéias e dos significados, como se o fizesse na essência de minhas emoções e sentimentos. O sabor (rasa) é a essência da poesia e da música.
35. Narka loka: purgatório
Na metade do caminho entre o céu e a terra, está o purgatório. Nele, assumo minhas responsabilidades. Cada ação trouxe seu fruto. Mas a queda na violência não é um castigo, senão uma purificação.
36. Svaccha: clareza de consciência
Matei minhas dúvidas. Aqui se dissolvem as trevas do ego e emergem meus verdadeiros sentimentos elevados. Já estou preparado para me unir ao fluxo ascendente da energia e entrar no reino do Ser.
37. Jñana: percepção, conhecimento
Perceber não é realizar nada. É simplesmente tomar consciência do que é bom e constatar quais são os meios para fazer o bem. Perceber que não sou independente reduz o tamanho de meu ego. Observo sem julgar. De fato, este estado acontece quando paro de julgar. Nesse sentido, perceber é o contrário de iludir-se. A ilusão muda constantemente os valores, enquanto que ao tomar consciência, esta página fica em branco. E somente uma folha branca pode ficar limpa.
38. Prana loka: força vital
O prana ou impulso vital é a própria força da vida. No corpo humano ela reside na respiração e seu alimento é o ar. Ao vibrar neste estado compreendo que o impulso vital está a serviço do ser e que a menor mudança no meu ser/estar afeta o ritmo de meus ciclos vitais. Ao mesmo tempo, posso aprender a equilibrar meu ser controlando os ciclos de meu impulso vital.
39. Apana vayu: eliminação
A eliminação (apana vayu) é o impulso físico que descarrega a energia do organismo. No ser humano reside no ventre. O Yoga ensina que a fusão entre os ares vitais prana e apana tem efeitos rejuvenescedores.
40. Vyana vayu: circulação
A circulação (vyana vayu) é uma forma da energia vital que equilibra o corpo. Sua manifestação é o sangue, que toma energia dos pulmões e a distribui pelo corpo, trabalhando em uníssono com o sistema endócrino. O vyana vayu equilibra as forças prana e apana.
41. Jana loka: plano humano
Chegando neste ponto dedico meu esforço a ficar em sintonia com as leis divinas, para manter o fluxo ascendente de minha energia interior. Aumentando a vibração, aumenta a consciência: além do horizonte existe outro horizonte novo.
42. Agni loka: fogo
O fogo é o veículo da energia, um elo entre Deus e o mundo. Ao vibrar aqui sei que minha natureza íntima é o fogo. E que também sou um veículo de Deus. Enganar a mim mesmo é impossível: a testemunha está sempre presente.
43. Manushya janma: nascimento humano
Este nascimento não foi registrado em cartórios, pois não sou filho de ninguém. Não pertenço a nenhuma casta, credo, religião ou nação. Não tenho coisas que me prendam nem preciso papéis de identidade. Encontrei a mim mesmo: sou filho de Deus.
44. Avidya: ignorância
Somente quando se chega ao conhecimento pode-se perceber a ignorância. A mente é um tigre na selva dos desejos. O verdadeiro conhecimento é a visão do Real. Por meu lado, estou identificado com certos estados emocionais e com certas percepções de meus sentidos (jñanendriyas).
45. Suvidya: conhecimento correto
O conhecimento correto (suvidya) acrescenta à percepção correta (jñana) a conduta que advêm da compreensão do passado, do presente e do futuro como aspectos da mesma continuidade. Por sua vez, essa compreensão provêm do fato de que deixei de fazer diferenciações: eu, conhecedor, sou Uno com aquilo que conheço. Neste momento sou uno com o Real e minha vibração ascende até o bem cósmico (rudra loka).
46. Viveka: discernimento
A discriminação é o terceiro olho. Com ele posso perceber o Ser, distinguir o denso do sutil. Assim posso evitar o retrocesso aos apegos materiais. A dualidade já tem pouco efeito sobre minha percepção da unidade e me sinto transportado à felicidade.
47. Sarasvati: neutralidade, caminho do meio (sushumna nadi)
Até agora não havia podido controlar o equilíbrio entre as forças masculina e feminina. Neste momento, a energia psíquica começa a ascender ao longo do canal central na coluna (sushumna nadi). O positivo e o negativo (ida e pingala) desapareceram... Somente o neutro fica estável, mais além da existência. Sou um espectador, apenas uma testemunha imparcial (sakshi) deste jogo.
48. Yamuna: corrente vital solar (pingala nadi)
O plano solar (yamuna ou pingala nadi) é o plano da energia masculina, onde se descobrem o poder e a destruição. Porém, equilibrar-se aqui sem energia lunar (ganga ou ida nadi) é impossível.
49. Ganga: corrente vital lunar (ida nadi)
A corrente lunar (ganga ou ida nadi) é a raíz da minha fonte de energia feminina. Com meus dois pólos funcionando em uníssono sou um campo magnético harmonizado.
50. Tapah loka: austeridade
O tema desta fileira do jogo é a prática da meditação. Reconheço os karmas que ainda restam, mas conheço também a plenitude de vibrar sem eles. Através da austeridade obtenho a capacidade de sentir vibrar a divindade dentro de mim. Assim é mais fácil queimar os karmas que restam.
51. Prithivi: terra
A terra é o cenário onde a consciência faz seus papéis. A terra não é somente o planeta: é a Mãe, a Unidade viva, Prakriti.
52. Himsa: violência
A ira é uma reação de defesa pessoal. Para ser violento, entretanto, necessito ter uma grande confiança em mim mesmo. A violência nasce somente quando possuo uma verdade: acredito ser o agente de Deus e a violência acontece no afã de reformar a consciência dos demais... Em casos extremos posso inclusive desejar que morram, para que suas consciências possam sair da ignorância. E assim, vou para o purgatório, na quarta fileira.
53. Jala loka: plano líquido
A água que absorve calor está aqui para apagar a energia da violência e transforma-la em exercício espiritual. A água não tem forma: adota a do vaso que a contêm. Ao vibrar aqui adquiro essa mesma qualidade da água. Reconheço que caibo em qualquer forma, posso transformar-me naquilo que configura o Ser e somente quando adquiro este conhecimento é que se dissolve a ilusão identificatória.
54. Sadhana: exercício espiritual
O exercício espiritual é o meio direto de experienciar a consciência cósmica. O exercício espiritual permite entender que o mahalila, o grande jogo, é a natureza básica do universo manifestado: cada estado, cada casa, é um jogo da mesma energia divina, uma manifestação diferente da mesma Unidade. Essa consciência devolve o múltiplo ao único. Procuro a união indivisível, a consciência sem dualidade, a bênção da graça.
55. Ahamkara: egocentrismo
Ao assumir uma forma, o centro de toda atividade sou eu e minhas coisas. Tudo aparenta estar em função de mim. Fiquei preso no ego. Não consigo me reconhecer como a totalidade que sou. Estou próximo da consciência cósmica, mas posso me perder do caminho. A falsa identidade me irrita, e é por isso que desço até a ira.
56. Omkara: vibrações perfeitas
O Yoga ensina que o som do mantra Om é a forma mais sutil sob a qual se manifesta o mar de consciência-energia. No início era o som. Sei que quando repito este som abandono o falso refúgio dos desejos e vejo com mais calma a vida. Preciso simplificar minha existência.
57. Vayu loka: plano do vento
O vento é movimento puro, sem peso, forma nem medida. Um líquido ainda adquire a forma do recipiente que o contém. Assim, ao chegar aqui, deixei de estar limitado. Momentaneamente ganhei liberdade de ação. Tampouco tenho peso, massa, nem forma.
58. Tejas loka: plano do fogo irradiante
Irradiar é emitir luz. A irradiação começa quando o movimento interior é tão rápido que já não pode ser contido pela matéria. Elevando minhas vibrações ao máximo, corro o risco de explodir em uma chama irradiante.
59. Satya loka: plano da realidade-verdade
Percebo a mim mesmo como o Real. Alcanço a auto-realização. O jogo é um processo de descobrimento da realidade. Já não há nenhum obstáculo para o fluir da energia. Equilibrado com as forças do Cosmos, fluo como uma gota de água no oceano.
60. Subuddhi: positividade
O intelecto positivo é a consciência sem dualidade. É verdade que enquanto ficar aqui neste corpo terei que discriminar, diferenciar e ponderar. Porém, estes julgamentos já não se referem ao mundo exterior, senão à minha própria realidade interior. Deste modo, minha vibração é cada vez mais positiva.
61. Durbuddhi: negatividade
Enquanto o intelecto ficar voltado para o ego, não posso evitar os julgamentos negativos. Negando assim essa manifestação peculiar do único, me fecho a essa possibilidade. Duvido que o Divino também esteja aí. No final deste caminho, nada nem ninguém é bom. Minhas energias se consomem tentando negar o Real e assim caio no estado de nulidade (anata ksha).
62. Sukha: felicidade
É impossível descrever este sentimento, que está além da alegria passageira. É uma experiência tão intensa que a felicidade pode ofuscar o jogador, levando-o a acreditar que já atingiu o objetivo. Por isso, logo à frente está a escuridão.
63. Tamas: escuridão, inércia, ignorância
A escuridão é a ausência de luz. E, se a luz é conhecimento, a escuridão é ignorância. Os karmas são inevitáveis, tanto no jogo quanto na vida. Tentar evitá-los, é mais um karma. Não posso ver a Unidade que existe entre as correntes e a libertação e volto então à ilusão (maya), para percorrer novamente o jogo desde o início. Respiro e relaxo.
64. Prakriti loka: mundo fenomênico
Sem a experiência, o conceito fica vazio. Sem o conceito, a experiência fica cega. Agora me aproximo do conceito após viver a experiência e compreendo que a fonte de todos os fenômenos é Brahman, o Absoluto onipresente.
65. Urantara loka: espaço interior
Após perceber que o mundo dos fenômenos também é Uno, me fusiono na força deles: sou o ser que sente. Não existe bem nem mal, vício nem virtude: sou como uma lente que deixa passar os fenômenos, sem restrições. Já não há distância entre os objetos e eu. De fato, não existe mais separação. Estou me fundindo na Unidade.
66. Ananda loka: plano de bem-aventurança
Todos os sentimentos se transformam em um só quando se percebe o Uno que está em tudo. Eu mesmo sou ser, consciência e bem-aventurança, sat-chit-ananda. Somente aquele que discerniu isto pode compreender.
67. Rudra loka: bem cósmico
Sem destruir a identidade centrada no ego, o Yoga, a verdadeira União é impossível. Se a criação é vontade divina, também o é a preservação e a destruição. Entendendo isto estou a um passo da consciência cósmica. Posso transmutar alquimicamente minha energia e envia-la de volta a reconhecer sua fonte.
68. Vaikuntha loka: Consciência Cósmica
Qualquer que tenha sido o percurso kârmico escolhido entre as ilimitadas possibilidades do jogo, cheguei ao lar, à verdade que é a própria essência da criação. Aqui acaba o jogo. Posso voltar a nascer para continuar jogando, ou posso ajudar os demais jogadores. A escolha é minha.
69. Brahma loka: o Absoluto
Praticando a compaixão (daya) chego a morar aqui, livre de medos e karmas, porque posso perceber o princípio sutil que me une a todas as formas e a todos os nomes... mas sua percepção é temporária. O jogo está além da formas e deve continuar.
70. Sattva guna: harmonia da consciência
A atividade harmônica da consciência é a corda onde me equilibro interiormente. A atividade balanceada da consciência me sustenta livre, sem karmas. Ela é a síntese entre ação (rajas) e inatividade (tamas). Desta forma compreendo, como uma testemunha, que simplesmente estou fazendo meu papel no jogo.
71. Rajoguna: consciência em atividade
Alcancei o oitavo plano mas, sem poder perpetuá-lo na consciência cósmica, fico novamente atraído pela ação. Neste plano, a atividade é como um espelho de minha consciência. Mas agir pressupõe a existência de alguém que age e a ação pode produzir dor, desejo e conflito.
72. Tamoguna: inconsciência
A inconsciência é a última casa do jogo. Aqui começa um novo jogo. O atributo da inconsciência é a escuridão, que predomina à noite. Sua natureza é a inércia. Aqui deixo a fileira das forças cósmicas e volto para a terra para descobrir a verdade, percorrendo um novo caminho. Compreendendo isto, relaxo e vejo a vida como um jogo. Não tenho outro objetivo. Só o jogo pelo jogo.
© Copyright: Harish Johari
© Copyright da tradução: Pedro Kupfer
Edição em português online em www.yoga.pro.br, novembro de 2005
Texto original por Harish Johari, do livro Leela, the game of self knowledge
Adaptação e tradução por Pedro Kupfer
Artigo retirado do web site: http://www.yoga.pro.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário