A paz de Deus vem à mente quieta - UCEM

A paz de Deus vem à mente quieta - UCEM

"Não busque mudar o mundo, mas escolhe mudar a tua mente sobre o mundo" (UCEM)

"Não busque mudar o mundo, mas escolhe mudar a tua mente sobre o mundo" (UCEM)
O Perdão é a chave para a Felicidade... Nada real pode ser ameaçado. Nada irreal existe. Nisso está a Paz de Deus.

Um Curso em Milagres

domingo, 13 de setembro de 2009

“QUE SEJA DESFEITO PARA SEMPRE O QUE TEMPORARIAMENTE FICOU ENTRE NÓS”




“QUE SEJA DESFEITO PARA SEMPRE O QUE TEMPORARIAMENTE FICOU ENTRE NÓS”

(Volume 19 Number 3 September 2008)

Kenneth Wapnick, Ph.D.

Tradução: Eliane Ferreira de Oliveira


O título desse artigo foi adaptado de uma carta que Beethoven escreveu, em 1804, a um amigo de infância, Stephen Von Bruening, depois de uma discussão que os afastou (1). Ela faz um eco ao que Jesus diz a nós em cada página do Um Curso em Milagres. Na verdade, poderíamos dizer que o propósito do Curso é nos fazer – de uma vez por todas – escolher contra o sistema de pensamento do ego de separação e julgamento, que nos mantém tão separados uns dos outros; uma divisão que tem existido desde o início do tempo, e vai terminar quando o tempo “deixar de parecer existir” (MP-14.2:12).

É essa necessidade de nos mantermos separados uns dos outros, até mesmo dos amigos mais chegados e da família, que reforça e preserva nossa crença de que a identidade separada que aparentemente roubamos de Deus é real. Além disso, é nossa culpa em relação a esse pecado auto-percebido que assegura que essa crença nunca possa ser examinada para que façamos uma escolha contra ela, pois a culpa nos enraíza firmemente no mundo do ego sem mente e sem tempo, do qual não há escapatória aparente. Portanto, o que temporariamente pareceu ficar entre nós e nossa Fonte se tornou uma realidade quase permanente, presa firmemente no lugar pela culpa e nutrida pelos relacionamentos especiais em nossas vidas.

A cegante barreira da culpa

Se nós tivéssemos que escolher uma palavra para encapsular o sistema de pensamento do ego, a culpa talvez encabeçasse a lista. Ela olha de volta para nosso passado de pecado, sendo a resposta emocional a essa crença, e ao mesmo tempo olha para frente, para um futuro cheio do pavor da punição raivosa de Deus por esse pecado. A culpa, portanto, nos separa de Deus e uns dos outros, e nos enraíza solidamente em um mundo de tempo – um passado pecador, um presente carregado de culpa, e um futuro amedrontador:

O ego investe maciçamente no passado e no final acredita que o passado é o único aspecto do tempo que é significativo... a ênfase que ele coloca na culpa lhe permite assegurar a própria continuidade, fazendo com que o futuro seja como o passado e assim evitando o presente. Através da noção de pagar pelo passado no futuro, o passado vem a ser o determinante do futuro, fazendo com que ambos sejam contínuos sem a intervenção do presente (T-13.IV.4:2-9).

Além disso, a culpa nos cega para a verdade da Expiação e, ao mesmo tempo, através da projeção, nos cega para a mente em geral, enraizando-nos no mundo sem mente, de corpos; um escudo muito efetivo, que nos impede de reconhecer a irrealidade inerente do sistema de pensamento do ego de pecado, culpa e medo:

A culpa te cega, pois enquanto vires uma única mancha de culpa dentro de ti, não verás a luz. E ao projetá-la, o mundo parece ser escuro e estar amortalhado na tua culpa. Jogas um véu escuro sobre ele e não podes vê-lo porque não podes olhar para dentro. Tens medo do que irias ver lá, mas isso não está lá. Essa coisa que temes se foi. Se olhasses para dentro verias apenas a Expiação brilhando em quietude e em paz sobre o altar ao teu Pai (T-13.IX.7).

E, então, nós escolhemos preservar nossa crença na culpa, e, portanto, em nosso ser separado, projetando-a nos outros, percebendo-os como os pecadores odiados, enquanto não temos mais consciência das nossas auto-acusações, o ódio endurecido de nós mesmos pelo que acreditamos ter feito a Deus e ao Seu perfeito Amor. Inevitavelmente, então, nós buscamos objetos em nosso mundo nos quais projetar, odiando-os para que Deus não nos odeie por nossos julgados ataques a Ele e a Seu Filho. Nós nunca deveríamos subestimar a intensa necessidade em todos nós de nos protegermos da culpa atacando os outros, e é a cruel dinâmica de projetar que literalmente faz nosso mundo girar, aparentemente para sempre:

O ódio é específico. Tem que haver algo para ser atacado. Um inimigo tem que ser percebido de tal forma que possa ser tocado, visto e ouvido e, em última instância, morto... Aquele que vê um irmão como um corpo, o vê como um símbolo do medo. E ele atacará, porque o que contempla é o seu próprio medo fora de si mesmo, pronto para atacar, mas pedindo aos gritos para se unir a ele novamente. Não te equivoques quanto à intensidade da raiva que o medo projetado tem que gerar. Irado, ele urra e arranha o ar na frenética esperança de poder alcançar aquele que o fez e devorá-lo (LE-pI.161.7:1-3; 8).

Todos nós, portanto, caminhamos na terra olhando para as pessoas, objetos, ou causas para estarmos transtornados. Sem inimigos lá fora – nossos parceiros de amor e ódio especial – seríamos forçados a confrontar nosso próprio inimigo pessoal, a culpa por nossas mentes terem escolhido contra a inocência de Cristo, nossa verdadeira Identidade. Esses pensamentos de ataque podem ser menores ou maiores, mas sua relativa intensidade é irrelevante. Enquanto acreditarmos que podemos ser afetados por algo externo a nós, estaremos tornando o sistema de pensamento dualista do ego real, dando poder a ilusões e tornando a verdade da perfeita Unicidade do Céu ilusória. Portanto, nós lemos em duas passagens, do livro de exercícios e do manual para professores:

… a raiva pode tomar a forma de qualquer reação, desde a mais leve irritação até a fúria. A graduação da emoção que experimentas não importa… um leve toque de aborrecimento nada mais é do que um véu encobrindo intensa fúria... Não importa. Todas essas reações são a mesma. Elas obscurecem a verdade, e isso nunca pode ser uma questão de grau. Ou a verdade é aparente ou não o é. Não pode ser parcialmente reconhecida. Aquele que não está ciente da verdade não pode deixar de contemplar ilusões (LE-pI.21.2:4-6,7-8; MP-17.4:9-13).

Uma vez que o objetivo do nosso ego é obscurecer a verdade da decisão da mente de atacar e suplantar a verdade do Céu, nós existimos em um mundo no qual somos cegados pela culpa para deixarmos de ver a luz que brilha em cada um de nós: a luz de Cristo – os Grandes Raios – que é perfeitamente unificada. Essa cegueira é fortalecida, pois as pessoas em nossas vidas são cegadas pela mesma culpa, a mesma necessidade de proteger a culpa através da projeção, e o mesmo compromisso de sustentar nossos estados mutuamente separados, preservando a culpa em nossos relacionamentos especiais.

O voto secreto

Cada um de nós veio ao mundo proferindo um voto secreto em relação a todos os relacionamentos que abrangem nossa experiência mundial: as famílias nas quais nascemos, nosso círculo de amizade, nossos colegas de trabalho, nossos amantes, nossos esposos, filhos, etc. A cada um nós solenemente prometemos manter as “verdades” ocultas da separação e do especialismo que iriam ficar para sempre entre nós, portanto, assegurando a permanência do que estaria para sempre entre nós e nossa Fonte. O corpo é o mantenedor dessa promessa, pois por sua própria natureza, os corpos demarcam o início e o fim de cada fragmento aparentemente separado da Filiação – a brecha que é representada por nossos seres especiais, diferenciados:

O corpo representa a brecha entre a pequena parte da mente que chamas de tua e todo o resto do que é realmente teu. Tu o odeias, no entanto, pensas que ele é o teu ser, e que sem ele, o teu ser perder-se-ia. Esse é o voto secreto que fizeste com cada irmão que quer caminhar à parte. Esse é o juramento secreto que reformas sempre que te percebes sendo atacado. Ninguém pode sofrer se não se vê atacado, e perdendo com o ataque. Cada brinde feito à doença não é declarado nem ouvido na consciência. No entanto, esse brinde é uma promessa a um outro, para ser ferido por ele e atacá-lo de volta (T-28.VI.4).

Esse, então, é o propósito do ego para todos os nossos relacionamentos: o meio de preservar seu sistema de pensamento de separação e diferenciação. Em certo sentido, portanto, cada vítima é emparelhada com um vitimador, pois um não tem sentido sem o outro, o que não é diferente de qualquer par de opostos no mundo dualista. Como uma das primeiras lições do livro de exercícios mostra:

... lembra-te de que um “mundo bom” implica em um “mau”, e um “mundo satisfatório”, implica em um ‘insatisfatório” (LE-pI.12.3:11-13).

Portanto, nós nos emparelhamos uns aos outros, nossos parceiros de amor e de ódio especial: aqueles que abusam de nós ou que são abusados por nós; aqueles que pensamos amar e aqueles que pensamos que nos amam. Não importa a forma, pois o conteúdo subjacente de manter esse voto secreto é o que dirige todos os relacionamentos nesse mundo. É por isso que Jesus em seu curso coloca tal ênfase em curar os relacionamentos. Na verdade, é claro, o único relacionamento que precisa de cura é a escolha errada da mente pelo ego, o relacionamento original e o único especial que existe na ilusão. No entanto, pelo fato de termos nos tornado sem mente e acreditarmos que os relacionamentos existem entre corpos, Jesus apresenta seus ensinamentos nesse contexto – a condição dualista (ou física) na qual pensamos existir (T-24.I.7:4). É por isso que Jesus nos diz que Um Curso em Milagres “permanece dentro da moldura do ego, onde ele é necessário” (ET-in.3:1).

Se nós olharmos aberta e honestamente para nossos relacionamentos passados e presentes (ou até antecipados), vamos poder ver o quanto nossas vidas tiraram seu significado dos outros, começando com nossos pais ou substitutos parentais. Todos esses relacionamentos, pelo menos em parte, foram caracterizados pela necessidade de sermos injustamente tratados - nosso desejo secreto. Portanto, Jesus nos incita a “que estejas atento para a tentação de perceberes a ti mesmo sendo tratado injustamente” (T-26.X.4:1-2). Por que, podemos perguntar, tal insanidade tão evidente e totalmente não benigna, dada a dor que ela inevitavelmente traz a nós e aos outros? A passagem continua com a resposta:

Nessa perspectiva, buscas achar uma inocência que não é Deles [de Deus e de Cristo], mas apenas tua e ao custo de culpa de alguma outra pessoa (T-26.X.4:2-4).

Nós precisamos fazer alguém ser percebido como culpado, pois é assim que o Deus irado das nossas insanas fantasias é detido em seus desígnios sobre nossas vidas pecadoras. O manual para professores apresenta a situação a nós, como o ego a emoldurou:

Tu usurpaste o lugar de Deus. Não penses que Ele se esqueceu... Um pai enraivecido persegue seu filho culpado. Matar ou ser morto, pois a escolha está apenas nisso. Além dessa, não há nenhuma, pois o que foi feito não pode ser desfeito. A mancha de sangue nunca pode ser removida e qualquer um que carregue essa mancha em si mesmo não pode deixar de encontrar a morte (MP-17.7:4-5, 8-13).

Dada essa impossível situação, na qual nossa destruição é uma certeza iminente, o ego nos aconselha a pregar uma peça em Deus, a convencê-Lo de que Seu Filho pecador é outra pessoa que não nós mesmos. E, então, nós transferimos a mancha do nosso pecado a outros, para que eles seguramente encontrem a morte. Seguindo os princípios do ego de um ou outro, os pecadores projetados serão aqueles que vão sofrer a condenação e a eterna punição do inferno, enquanto nós voltamos às boas graças de Deus, e alegremente voltamos para casa com Ele.

Portanto, todos nós precisamos de nossos abusadores, vitimadores e inimigos, pois eles nos permitem manter nosso bolo de separação do ego e apreciá-lo, sem o pecado e a culpa que iria envenenar o prazer dos nossos pensamentos de ataque “justificados”. Sendo fragmentos do sistema de pensamento original do ego de pecado, culpa e projeção, nós jogamos o mesmo jogo assassino do especialismo uns com os outros, sendo fiéis ao voto secreto e solene de manter o pensamento de separação que nos deu existência. A falta de benignidade, portanto, tornou-se o meio do ego de sustentar sua vida à custa de outro, e, portanto, ele evita com uma vingança, todas as tentativas de benignidade e perdão. Essa promessa a cada coisa viva é mantida até que a dor da nossa decisão se torne intolerável. Só então, nos espasmos de nosso miserável estado de existência, podemos pedir a ajuda que vai mudar o objeto da nossa fidelidade do ego para o Espírito Santo, do objetivo de ataque e assassinato para a benignidade e o amor.

Mudando a meta: do ataque para a benignidade

As palavras de Beethoven deveriam estar em nossas mentes e em nossos lábios no minuto em que formos tentados a escolher um pensamento não benigno sobre alguém. Nós precisamos estar atentos sobre o quanto é sedutor ser não benigno, pois é assim que mantemos o pensamento de separação que ficou entre nós, assim como primeiro ficou entre nós e nossa Fonte. Além disso, nós precisamos reconhecer os motivos ocultos do ego por trás dos nossos pensamentos de ataque, pois eles são realmente úteis. Esses pensamentos de julgamento são varinhas de condão que o ego balança diante de nós quando estamos com medo da verdade amorosa que repousa por trás dos sonhos de separação e especialismo do ego: a escolha errada da mente tomadora de decisões pelos pesadelos do ego, o insano substituto para a realidade do Céu. Substituindo a palavra doença por raiva, nós lemos a seguinte exposição das táticas do ego:

A raiva não é um acidente. Como todas as defesas, é um instrumento insano para o auto-engano... As defesas não são involuntárias, nem são feitas sem consciência. São varas de condão mágicas e secretas que manipulas quando a verdade parece ameaçar aquilo em que queres acreditar. Só parecem ser inconscientes por causa da rapidez com que escolhes usá-las... Mas depois o teu plano requer que esqueças que foste tu que o fizeste, de modo que ele pareça estar fora da tua própria intenção, um acontecimento além do teu estado mental, um resultado com efeitos reais sobre ti, ao invés de efetuado por ti mesmo (LE-pI.136.2:1-2; 3:1-5; 4:4-8).

Reconhecer o objetivo do ego pelo que ele é, nos permite mudá-lo; mudando do propósito do ego para os relacionamentos, de nos afundar ainda mais na lama da culpa e para nos manter adormecidos, para o propósito de Jesus de desfazer nosso sistema insano de crenças e gentilmente nos despertar dos sonhos de um ou outro: um ganha, outro perde; um vive, outro morre. Portanto, nós realmente abrimos nossos olhos a cada manhã e reafirmamos nosso objetivo para o dia: ser benignos ao invés de zangados, compartilhar a visão de Cristo da similaridade universal do Filho de Deus ao invés da percepção errônea de diferenças e interesses separados do ego. O objetivo que nós estabelecemos é tudo, pois ele determina como vamos pensar, sentir e nos comportar durante o dia todo. E, então, como Jesus ensina no texto, vamos praticar nossas lições de perdão muito especificamente em cada um de nossos relacionamentos, e em situações nas quais nos encontramos, aprendendo a generalizar nosso objetivo e propósito a tudo o que aconteça durante toda nossa vida:

A colocação da meta do Espírito Santo é geral. Agora Ele irá trabalhar contigo para faze com que ela seja específica, pois a aplicação é específica... Por conseguinte, é essencial a essa altura usá-las separadamente em cada situação até que possas enxergar com maior segurança além de cada uma delas, em uma compreensão muito mais ampla do que a que possuis agora.

Em qualquer situação na qual estejas incerto, a primeira coisa a considerar, muito simplesmente, é “O que eu quero que resulte disso? Para quê serve isso?”. O esclarecimento da meta tem que estar no início, pois é isso o que vai determinar o resultado... O valor de decidir com antecedência o que é que queres que aconteça, simplesmente está em que perceberás a situação como um meio de fazer com que isso aconteça. Farás, portanto, todos os esforços para não ver o que interfere com a realização do teu objetivo e concentrar-te-ás em tudo aquilo que te ajuda a realizá-lo (T-17.VI.1:5-7,9-13; 2:1-4; 4:1-6).

As implicações desse procedimento são enormes, pois elas provêem uma mudança radical de como o mundo percebe a si mesmo, onde situações e relacionamentos determinam como nos sentimos, e não as decisões feitas por nossas mentes. Somos nós que escolhemos a meta – perdão ou ataque, dormir ou acordar – e isso provê o conjunto psicológico para como vamos perceber o mundo e reagir a ele. E isso sempre independe do externo: o conteúdo sempre precede a forma; o oposto exato dos relacionamentos especiais do ego, nos quais a forma foi substituída pelo conteúdo, o cerne, por exemplo, de cada religião formal:

… o amor é conteúdo e não forma de espécie alguma. O relacionamento especial é um ritual de forma, com o objetivo de elevar a forma... às custas do conteúdo. Não há nenhum significado na forma e nunca haverá. O relacionamento especial tem que ser reconhecido pelo que é, um ritual sem sentido... o sinal de que a forma triunfou sobre o conteúdo e o amor perdeu o seu significado (T-16.V.12:2-10).

Restaurando nossa atenção ao conteúdo de perdão da mente, nós percebemos nossas experiências diárias como o meio de atingir a meta de continuar a jornada de despertar. Na verdade, essas experiências não têm outro propósito agora além de ser nosso caminho para casa. As formas das nossas vidas, portanto, não tem outro significado além daquele dado a elas por nossas mentes tomadoras de decisão. Isso, então, significa que se estamos transtornados por qualquer coisa, é apenas porque nos esquecemos do propósito da nossa mente certa, substituindo-o pelo propósito do ego de preservar nosso ser, negando o poder de escolha de nossas mentes. No entanto, nunca existe nenhuma outra causa para nossa inquietude, que é porque Jesus nos diz que nunca estamos transtornados pela razão que imaginamos (LE-pI.5). A verdadeira causa da nossa angústia é que nós mudamos nossa meta de volta para a necessidade do ego de nos manter adormecidos e sonhando seus pesadelos sem mente, de ataque, dor e vitimação. Um Curso em Milagres nos lembra:

Reconheces que queres a meta. Não estás também disposto a aceitar os meios?... Um propósito se atinge através de meios e se queres um propósito tens que estar disposto a querer também os meios. Como é possível uma pessoa ser sincera e dizer: “Quero isso acima de tudo, no entanto, não quero aprender os meios para conseguir isso”? (T-20.VII.2:4-6, 7-11).

A decisão de manter as barreiras da separação em nossos relacionamentos, portanto, é a decisão de não desfazer as barreiras entre nós mesmos e Deus, voltando para Seus Braços amorosos. Novamente, não se pode ser sério sobre a meta se também não se for sério sobre praticar as lições diárias do perdão que iriam nos ajudar a atingi-la.

O ponto central dos recursos da mente é o corpo, pois sua neutralidade inerente (LE-pII.294), uma vez que ele foi feito, permite que ele seja o meio do ego de preservar seu especialismo, ou o meio do Espírito Santo pelo qual somos ensinados o significado real da santidade. Ele pode ser usado como um apoio para nossa confiança na forma, dessa forma, mantendo a culpa que nos têm mantido separados uns dos outros, ou como um instrumento que reverte as projeções do ego e nos retorna à mente que pode escolher novamente; a mudança da forma para o conteúdo, do julgamento para a visão.

O corpo é o meio pelo qual o ego tenta fazer com que o relacionamento não-santo pareça real... Mas aqui o propósito é o pecado. Ele não pode ser atingido a não ser em ilusões e, assim, a ilusão de um irmão como se fosse um corpo está bastante de acordo com o propósito da não-santidade. Devido a essa consistência, o meio permanece sem ser questionado enquanto o fim é valorizado. O que se vê se adapta ao que se deseja, pois a vista sempre é secundária ao desejo. E se vês o corpo, escolheste o julgamento e não a visão (T-20.VII.5:1-2, 3-9).

Uma vez que fomos nós que determinamos a meta para o corpo – o nosso e os dos outros -, somos os únicos que podem mudá-la. Escolhendo Jesus como nosso professor ao invés do ego, nós aceitamos seu propósito de aprender a benignidade ao invés do julgamento, e estamos querendo compartilhar sua visão da similaridade universal do Filho de Deus. Isso desfaz o pensamento subjacente de separação e diferenciação, pois reflete a Unicidade intacta do Céu que nós experienciamos aqui, como os fragmentos do Filho de Deus compartilhando igualmente a mesma mente dividida: a mente errada, a mente certa, e o tomador de decisões com o poder de escolher entre a culpa e a inocência, ataque e perdão:

Não coloques a sua culpa sobre ele, pois a sua culpa está em seus pensamentos secretos de que foi ele que fez isso a ti. Irias tu, então, ensinar-lhe que ele está certo em sua delusão?... Não vejas, portanto, ninguém como culpado e assim afirmarás a verdade da inculpabilidade para ti mesmo. Em toda condenação que ofereces ao Filho de Deus está a convicção da tua própria culpa. Se queres que o Espírito Santo te liberte da culpa, aceita a Sua oferta da Expiação para todos os teus irmãos. Pois assim aprendes que ela é verdadeira para ti (T-13.IX.5:1-3; 6:1-6).

E, então, nós olhamos através dos egos dos nossos irmãos para seu anseio de serem cada vez mais dirigidos pela mente certa. Sem culpa em nossas mentes para distorcer nossa percepção, nós os vemos como Jesus o faz: seus pensamentos de ataque da mente errada sendo a defesa contra seu medo, o que, por seu lado, expressa seu pedido pelo amor que eles negaram (T-12.I.8-10). Em outras palavras, nós não tomamos seus ataques aparentes a nós como algo pessoal, mas reconhecemos, para dizer em palavras diferentes, que pessoas assustadas podem ser cruéis (T-3.I.4:2), e que esse medo é uma defesa contra a lembrança da sua verdadeira e indiferenciada realidade como espírito. Isso nos capacita a olhar para os outros como companheiros na jornada para casa, todos compartilhando o mesmo desejo de lembrar a inocência do Filho de Deus. Nosso perdão benigno abre a porta que leva dos pesadelos aos sonhos felizes, e, então, ao despertar gentil que nos leva de volta ao Céu que nunca deixamos:

Sonha suavemente com o teu irmão sem pecado, que se une a ti em santa inocência. E desse sonho o próprio Senhor do Céu despertará o Seu Filho amado. Sonha com a benignidade do teu irmão, em vez de habitares nos seus equívocos em teus sonhos. Seleciona a atenção cuidadosa que ele te presta como matéria dos teus sonhos, ao invés de contares os ferimentos que ele provocou. Perdoa-lhe as suas ilusões e agradece-lhe por toda a ajuda que prestou. Perdoa-lhe as suas ilusões e agradece-lhe por toda a ajuda que prestou. E não deixes de lado as muitas dádivas que ele te deu, porque ele não é perfeito em teus sonhos (T-27.VII.15:1-10).

A benignidade dos nossos pensamentos suavemente desfaz os votos secretos que fizemos uns aos outros, permitindo que o voto sagrado de unidade do Céu substitua-os com seu amor gentil, refletindo a promessa que fizemos como um Filho em nossa criação.

O voto sagrado

Esse voto sagrado que fizemos uma vez a Deus, e que retorna à nossa consciência quando perdoamos – a correção para o voto secreto que fizemos ao ego, há muito, muito tempo, antes do tempo até parecer ser:

Permite que seja esse o teu acordo com cada um: que sejas um com ele e não um ser à parte. E ele manterá a promessa que fizeste para com ele porque é essa a promessa que ele fez a Deus, assim como Deus fez a ele. Deus cumpre as Suas promessas; o Seu Filho cumpre as suas. Ao criá-lo assim disse o seu Pai: “Tu és meu amado e Eu o teu para sempre. Sê pois perfeito, como Eu sou, pois nunca poderás estar à parte de Mim”. Seu Filho não se lembra de que ele Lhe respondeu “Assim serei”, embora ele tenha nascido nesta promessa. No entanto, Deus lhe lembra dessa promessa todas as vezes que ele não compartilha uma promessa de ficar doente, mas deixa a sua mente ser curada e unificada. Os seus votos secretos são impotentes diante da Vontade de Deus, Cujas promessas ele compartilha. E aquilo que ele usa para substituí-las não é a sua vontade, ele que se prometeu a Deus (T-28.VI.6).

Esse voto é renovado a cada vez que temos um pensamento gentil sobre os Filhos de Deus, não importando sua forma, não importando sua história, não importando seu ego. Cada pensamento reflete o amor do Céu, perfeito em sua unicidade, por desfazer as barreiras da separação e do especialismo que apartaram os diferentes aspectos do Filho de Deus. Vendo o custo para nós de uma brecha dessas, nós alegremente escolhemos outra vez e desfazemos o que temporariamente ficou entre nós e nossos irmãos. E, ao fazermos isso, o Céu se inclina em gratidão por nossa grande e amorosa dádiva, pois se Deus pudesse falar, isso seria o que diria ao Seu Filho: “Que seja desfeito para sempre o que temporariamente ficou entre nós”. Portanto, Ele nos pede para abrirmos a porta, por trás da qual mantivemos ocultos os pensamentos de separação e culpa que aparentemente despedaçaram nossa unidade inerente, por trás da qual repousa escondida uma porta ainda mais secreta que revela o espaço infinito do Amor eterno de Deus. Agora, finalmente, nossas mentes estão abertas à verdade. Agora, finalmente, nós viemos para casa. Agora, finalmente, nós ouvimos as palavras que ansiamos ouvir através de todo o tempo, nunca sonhando que elas ainda estariam lá para nós, pacientemente aguardando estarmos prontos. Em Seu grande Amor, nosso Pai nos diz, nas palavras inspiradas dadas no final do poema de Helen Schucman, As Dádivas de Deus:

Tu és Meu Filho, e Eu não me esqueci do local secreto no qual ainda habito, sabendo que tu vais te lembrar. Vem, Meu Filho, abre teu coração e Me deixe brilhar em ti, e no mundo através de ti. Tu és Minha luz e o local onde habito. Tu falaste por Mim para aqueles que esqueceram. Chama-os agora para Mim, Meu Filho, lembre-te agora para todo o mundo. Eu chamo em amor, assim como tu responderás a Mim, pois essa é a única linguagem que nós conhecemos. Lembre-te do amor, tão perto que tu não podes falhar em tocar seu coração porque ele bate em ti.

Não te esqueça. Não te esqueça, Minha criança. Abre a porta diante do local oculto, e Me deixe resplandecer sobre um mundo tornado feliz em súbito êxtase. Eu venho, eu venho. Veja-Me. Estou aqui, pois Eu sou Tu; em Cristo, por Cristo, Meu Próprio Filho amado, a glória do infinito, a alegria do Céu e a paz santa da terra, retornadas a Cristo e das Suas mãos para Mim. Agora, dize Amém, Meu Filho, pois está feito. O local secreto está finalmente aberto agora. Esquece todas as coisas exceto Meu Amor imutável. Esquece todas as coisas exceto que eu estou aqui (As Dádivas de Deus, p. 128).


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Em sua carta original, Beethoven usou a palavra “oculto” ao invés de “desfeito”. Eu fiz a substituição para manter a afirmação de acordo com Um Curso em Milagres, pois a palavra de Beethoven tem a conotação de que o que está oculto é real e ainda está presente
Eliane ...Uma amiga...Uma professora de Deus...
Minha eterna gratidão.

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