CAPÍTULO X
Será que o sofrimento é realmente necessário?
Se você não tivesse sofrido o que sofreu, não teria profundidade como ser
humano, não teria humildade nem compaixão. Não estaria lendo este texto agora.
O sofrimento rompe a casca do ego do eu autocentrado e promove uma
abertura até atingir um ponto em que cumpriu sua função.
O sofrimento é necessário até que você se dê conta de que ele é
desnecessário.
A infelicidade precisa de um eu construído pela mente, um eu com uma
história e uma identidade. Precisa do tempo passado e futuro. Quando você
elimina o tempo da sua infelicidade, o que sobra? A situação daquele momento.
Pode ser uma sensação de peso, agitação, aperto no peito, raiva ou até enjôo.
Isso não é infelicidade nem um problema pessoal. Não há nada de pessoal no
sofrimento humano. Trata-se apenas de uma forte pressão ou uma grande energia
que você sente em alguma parte do corpo. Se você concentra sua atenção nessa
energia, a sensação não se transforma em pensamento e assim não reativa o
eu infeliz.
Há muito sofrimento e tristeza quando você acha que cada pensamento que
passa por sua cabeça é verdadeiro. Não são as situações que causam infelicidade. São
os pensamentos a respeito das situações que deixam você infeliz. As interpretações
que você faz, as histórias que conta para si mesmo é que deixam você infeliz.
Achar que estamos certos e os outros errados nos coloca numa posição
ilusória de superioridade, e com isso fortalecemos nossa noção do eu . Criamos
assim uma espécie de inimigo, porque o eu precisa de inimigos para definir seus
limites e sua identidade.
Julgar alguém ou algum fato é criar sofrimento para si mesmo. Somos
capazes de criar todos os tipos de sofrimento para nós mesmos, mas não
percebemos isso porque de certa forma esses sofrimentos satisfazem o ego. O eu
autocentrado se sente mais confortável no conflito.
Como a vida seria mais simples sem essas histórias que o pensamento cria.
Rotular uma coisa como ruim provoca uma tensão emocional. Se você deixar
que as coisas existam sem classificá-las, passa a dispor de um enorme poder.
Você pode aprender a reconhecer todas essas formas de sofrimento na hora
emque ocorreme dizer para simesmo: Estou criando umsofrimento paramim .
Se você tem o hábito de criar sofrimento para si mesmo, deve estar criando
também para os OUTROS.
É impossível estar ao mesmo tempo consciente - no agora - e criando
sofrimento para si mesmo.
Um diálogo:
Aceite o que é .
Não posso. Eu me sinto agitado e irritado por causa disso .
Então, aceite o que é .
Aceitar que estou agitado e irritado?Aceitar que não consigo aceitar?
Isso mesmo. Aceite a sua não aceitação. Entregue-se à sua não entrega. E
veja o que acontece .
A dor física crônica é um dos mestres mais duros que se pode ter. Ela nos
ensina que a RESISTÊNCIA É INÚTIL . Quando você sofre conscientemente,
quando aceita a dor física, ela anula o ego, pois o ego é formado sobretudo por
RESISTÊNCIA. O mesmo ocorre com uma grande deficiência física.
Ao se entregar, aquilo que parecia negar a existência de qualquer dimensão
transcendental torna-se uma abertura para esta dimensão.
Final da síntese O poder do silêncio p/ Amarílis, minha gratidão à amiga Eliane , por partilhar.
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