Kenneth: Bem, a fome final, é claro, é a fome por Deus. E, se você redefinir “fome”, que soa como algo mais físico, para significar “anseio”, seria a mesma coisa. O que todos nós ansiamos ou pelo que sentimos fome é por Deus. Nós sabemos que existe algo faltando. Todos sabem, bem dentro de si mesmos, que existe algo faltando. Assim como está em uma maravilhosa lição do livro de exercícios, “Eu me aquietarei por um instante e irei para casa” (LE-pI.182), que diz no início, que todos se sentem como um estrangeiro aqui, todos sentem que esse mundo não é o seu lar. Todos.
Nessa lição muito linda, Jesus diz, “Ninguém aqui deixa de saber do que falamos”. Esse mundo não é o nosso lar; não pertencemos a ele; existe algo faltando. Mas então, é claro, o que as pessoas fazem, como a lição também explica, é encobrirem esses sentimentos e se unirem em especialismo aos outros. Nós nos mantemos ocupados e fazemos todos os tipos de coisas: tentamos tornar nossos corpos mais bonitos, nossos apartamentos e lares mais bonitos, nosso planeta mais bonito; queremos tornar tudo bonito, porque é aqui que vivemos. É claro, isso nunca funciona. Esse é o anseio e a fome que todos têm. O que o ego sempre faz é transferir essa fome e esse anseio da mente para o corpo. Essa é outra forma de entender por que o corpo foi feito da forma que foi. O corpo está sempre ficando com fome. Acho que, para propósitos práticos, podemos deixar de lado a fome normal que o corpo vai experimentar através do dia, assim como a necessidade normal de dormir. Isso é parte do sistema do ego, mas basicamente existem limites normais. Vamos falar, ao invés disso, sobre a fome anormal, voraz, que você sente mesmo quando acabou de comer há uma hora, e seu corpo não está precisando de comida – ou você sente que tem que dormir quatorze ou quinze hora por dia, quando seu corpo não precisa disso. É disso que estamos falando: a fome e necessidade excessivas.
Isso é realmente o ego pegando o senso de ansiedade e falta, os sentimentos que todos temos de sermos órfãos e sem lar, e transferindo-os para o corpo. Então, passo a ter necessidade de lidar com os sentimentos físicos de estar faminto e assim por diante. O Curso também explica que o corpo não sente nada de forma alguma. Não é o corpo que sente fome; não é o corpo que sente impulsos sexuais ou dor; é a mente que então transfere sua crença de falta para o corpo (T-19.IV-C.5:2-4; T-28.VI.1-2). Aí, isso se torna um estratagema de distração, uma cortina de fumaça, porque sentimos que é o corpo que tem que ser saciado; e então, vamos atrás de qualquer coisa que vá fazer isso. Mas isso nunca funciona, porque o anseio subjacente nunca é preenchido. É por isso que o sistema é “perfeito”, porque ele se perpetua continuamente. É por isso que, assim como você estava dizendo, Betty, nunca é suficiente: eu quero mais e mais. É o ego continuamente nos forçando a nos focalizarmos no corpo em vez de no mundo, o que vai prover o corpo com o que ele precisa, para que nunca consigamos o que realmente precisamos. Mais uma vez, se eu puder iniciar a idéia de convidar Jesus ou o Espírito Santo para se unirem a mim quando for comer, quer eu coma de forma sensata ou me delicie, vou começar a desfazer aquele sistema de pensamento.
Susan: Então, o comportamento realmente não importa.
Kenneth: Comportamento não importa – isso é o que aprisiona você o tempo todo. É aí que você sempre pega Jesus, você vê. O que ele promete a você é paz, amor, felicidade e inocência na sua mente; e você diz, “Eu não quero isso, eu quero um corpo magro”. Você estabelece a condição dessa forma – como a história que contei sobre Helen e sua exigência inegociável de Deus[1]. Você diz a Jesus que isso é inegociável: eu quero perder nove quilos.
Susan: Certo.
Betty: E se você me amasse, iria permitir que isso acontecesse.
Susan: Sim, você iria fazer com que isso acontecesse.
Kenneth: Isso mesmo. E inconscientemente, você estabeleceu que não vai perder os nove quilos. Veja, foi você que escolheu ganhar os nove quilos, não ele. Mas você se esqueceu disso, e depois o culpa. É um sistema invulnerável. Como o Curso diz: o sistema do ego é à prova de tolos – não à prova de Deus, mas à prova de tolos (T-5.VI.10). Ele é hermético em si mesmo. Então, você se sente perfeitamente justificada em desistir dele, desistir do seu Curso, desistir das dietas, desistir de tudo. Aí, você se sente tão mal, que simplesmente come ainda mais; mas o que você tem que fazer é perceber que a coisa toda foi inventada. Você está estabelecendo isso de maneira a falhar. O Curso diz que a máxima do ego é “busque, mas não ache” (T-12.IV.1). É isso o que você está fazendo, porque você pode estar fazendo o que ele lhe pede em termos de convidá-lo a entrar, mas está fazendo apenas parte disso. Você está fazendo a forma, mas não o conteúdo.
Susan: Então, estou fazendo a forma. E, é claro, não a estou fazendo universalmente: eu separo a comida, as circunstâncias nas quais convido o Espírito Santo. Então, você está dizendo para convidar o Espírito Santo a entrar em tudo? Apenas continuar generalizando?
Kenneth: O ponto central todo que já discutimos outra vez sobre os sundaes com calda de chocolate quente é que se você pudesse comer um sundae de chocolate com Jesus ou com o Espírito Santo ao seu lado, então, não haveria qualquer culpa[2]. Isso funciona, e realmente funcionou para você até seu ego pular para frente, sabotá-lo, e dizer, “O que você quer dizer com funcionou? Você engordou 2 quilos essa noite”! Mas você perdeu dois quilos de culpa, e isso o ego não lhe diz. O que você realmente quer aprender é que você é sem culpa, e não importando o que acreditar ter feito a Deus ou a Jesus, isso não teve efeito sobre Seu amor por você. É isso o que você realmente quer aprender. E seu ego está com tanto medo que diz “Não, não, não, eu não quero aprender isso; quero perder peso”.
Judy: Então, o que acontece é que seu objetivo continua mudando. Ela quer se assegurar do resultado, que é o de que ela perca quilos na balança, mas o objetivo realmente é estar com Deus – você sabe, alinhar-se com o Espírito Santo para que seu relacionamento com Deus se aprofunde. Mas eu vejo que sempre existe inconsistência aí; nós não ficamos consistentemente nessa companhia.
Kenneth: Isso é assim porque estamos com medo da meta. Mas o que você quer fazer, como o Curso diz em muitos trechos diferentes, é manter seus olhos, sua mente, sempre focalizados na meta (veja, e.g., T-17.VI; T-20.VII0. O objetivo é ser sem culpa, e se sentir amoroso e pacífico. A inconsistência de que Judy está falando é a de que nós ficamos com medo dessa meta, porque para o ego, ser sem culpa é ser culpado. Esse é o problema. Mas então, o que você faz é o que todos fazem quando isso falha: em vez de dizer, “Ah, falhou porque eu estava com medo de ser sem culpa”, nós dizemos que falhou porque Jesus não veio, ou ele mentiu para mim, ou o Curso não é verdadeiro.
Susan: Ou que o Curso não funciona.
Betty: Também, que não vamos alcançar a salvação até que todos nós o façamos. Isso é muito difícil para mim. Eu posso alcançar alguma perda momentânea de culpa, e então, isso não importa. Eu não me importo com a balança e as roupas que continuo comprando maiores, mas o resto da Filiação vai olhar para mim e ficar bem “desagradável”.
Kenneth: Por que você os está atrasando?
Betty: Não, porque eles também não são sem culpa. E então, vão ver minha gordura.
Kenneth: Certo. E eles vão atacá-la porque não querem vê-la em si mesmos.
Betty: Então, é difícil para mim andar por aí me sentindo bem, quando outras pessoas não querem ficar perto de mim porque sou gorda.
Kenneth: Mas, se elas forem boas estudantes do Um Curso em Milagres, o que é responsabilidade delas não sua, vão reconhecer que quando ficam zangadas com Betty ou transtornadas porque ela está acima do peso, é realmente por causa delas mesmas. E então, elas deveriam se sentir gratas a você, porque você é a tela na qual elas podem projetar sua própria gordura interna.
Betty: Então, eu me sinto abandonada por elas, porque existe agora uma separação entre nós.
Kenneth: Não tem que existir. Não tem que haver uma separação na sua mente. Você sabe, você poderia ver essas pessoas como seus irmãos e irmãs. Elas podem manifestar sua culpa de outras formas que não seja ganhando peso, e você a manifesta estando acima do peso. Mas vocês ainda são irmãos e irmãs porque vocês compartilham o mesmo sistema de pensamento do ego. Vocês também compartilham a mesma ânsia por Deus, mas é por isso que aquela lição do livro de exercícios é tão útil. Todos nós compartilhamos a mesma ânsia de voltarmos para casa, e não sabemos como fazê-lo. Nós não sabemos onde ela está. De fato, sentimos que a perdemos e que estamos presos aqui. É como estar em um oceano em um bote salva-vidas. Você sabe que essa não é sua casa, não sabe onde o lar está, e não pode chegar lá – você está simplesmente em um miserável bote salva-vidas, no meio do oceano. Se você percebesse que todos estão em um bote salva-vidas, veria que a maneira de sair dali é se unir aos outros botes salva-vidas, para que vocês possam todos juntos ir para casa.
O ego, então, sempre vai mantê-la separada. Perceber a mim mesmo como separado dos meus irmãos e irmãs pelo fato de estar acima do peso e eles não, ou por eles estarem transtornados pelo fato de eu estar acima do peso, é a forma do ego de olhar para isso. A outra forma de olhar para isso é a de que estamos todos transtornados, e estamos todos perdidos, e vamos expressar nosso especialismo de formas diferentes. Se você vir isso dessa forma, não vai ver o fato de estar acima do peso como uma interferência, ou como um artifício de separação. Esse então se torna um artifício útil, uma forma útil de você perceber que, apesar do que fizer com seu corpo, você ainda não é separada de ninguém mais, e apesar de toda a comida que está colocando em sua boca, você ainda não é separada de ninguém mais ou de Deus. Você usou isso dessa forma, mas não tem que ser dessa forma.
Judy: Sabe, acho que essa foi uma das lições no Curso que mais me prenderam. Ontem, nós três estávamos falando sobre as causas e maneiras nas quais nos unimos, e eu disse que eu sempre era uma pessoa “causal”. Eu sempre me senti tão separada de todos no mundo que me unia a grupos, ou tentava me envolver em coisas diferentes, pensando que alguém mais tinha algo que eu não tinha. E então, quando eu entrava em um novo círculo de amigos ou em uma nova causa, descobria que não havia nada lá para mim. Eu ainda tinha esse sentimento de vazio, e depois cheguei à lição “Vou me aquietar por um instante e irei para casa”. A lição basicamente diz que esse não é o seu lar – ninguém está em casa aqui. Houve um sentimento de muita satisfação, porque eu sabia que não tinha mais que procurar coisa alguma – que a busca realmente era interna. E, mais uma vez, estabelecer um relacionamento mais profundo com Deus; o que eu não faço o tempo todo, mas sei que é onde a meta realmente está. Eu sei que é isso o que a verdade é para mim. Nós passamos muito tempo basicamente falando sobre isso ontem. Nós falamos sobre o movimento dos direitos civis, e movimentos das mulheres, e entrar em instituições educacionais, conseguir notas. Eu passei por tudo isso. Eu tinha que consegui-lo. Eu tinha que fazê-lo. Essas eram as metas que eu estabeleci. E então, depois de tudo, eu ainda estava de volta no ponto em que tinha começado.
Kenneth: Você ainda está faminta.
Judy: Ainda faminta? Sim. Então, começo a me empanturrar de M & Ms.
Betty: Ou morrendo de fome. Aqui estivemos falando sobre comer demais e comer além, e depois, existem pessoas que se matam de fome; pessoas que, a partir do medo – em alguns casos a partir do medo de que ficarão gordas – se matam de fome e não comem. Elas não aceitam a nutrição e o amor.
Kenneth: Veja, o ego nos pega de qualquer forma: não importa se você se torna anoréxica, ou se simplesmente come o tempo todo. No final, deveríamos realmente pensar na comida como uma expressão de canibalismo, o que realmente é como o ego fez o mundo e o corpo: existe alguma coisa faltando e existe algo lá fora de que preciso, e que vai me preencher. A comida literalmente faz isso. Nós fazemos isso o tempo todo – psicologicamente em nossos relacionamentos, mas a comida é um tipo de expressão literal disso. E, basicamente, qualquer coisa que esteja fora de nós, temos que matar para poder comer. Em outras palavras, para que um corpo permaneça vivo, quer seja um corpo humano ou outro chamado organismo vivo, ele tem que matar outra coisa e ingeri-la – quer esteja matando uma cenoura, ou uma vaca, ou um peixe, ou seja o que for.
Essa atividade contém a memória do que fizemos com Deus[3]. O ego não existe se não ficar sobre a morte de Deus. Então, nós matamos Deus e O comemos, e isso, é claro, é o que é a Eucaristia. Os católicos, na missa, ritualisticamente e no rito da comunhão, comem o corpo de Jesus, para que sua santidade, amor e vida se tornem a sua própria, mas à custa dele. Ele é o sacrifício. É a idéia de ter que matar. O manual para professores diz, em um sentido, que a regra do mundo é “matar ou ser morto” (MP-17.6:11). Esse é o mundo do ego em nossas mentes. Comer alimentos, então, se torna uma memória desse pensamento. Portanto, não é surpresa, novamente, que quase todos tenham questões egóicas em relação à comida. A culpa não é porque comemos algo que estava vivo; a culpa é porque acreditamos ter comido Deus, simbolicamente é claro, porque no início, não havia corpos. O ego nos diz que nós matamos Deus. Nós O roubamos, e então, sobre Seu corpo morto construímos nosso reino.
Só para simplificar, as pessoas podem reagir a essa culpa de duas maneiras. Uma é apenas continuar na culpa: quanto mais culpado eu me sinto, mais tenho que encobrir toda a dor. Eu simplesmente continuo fazendo as mesmas coisas que me tornam tão culpado. As pessoas que são anoréxicas, ou as pessoas que simplesmente não comem muito porque têm medo de aumentar 2 centímetros na cintura, ou 2 quilos na balança, estão passando pelo que chamamos de “formação reativa”. Elas fazem o oposto: elas tornam o “pecado” do canibalismo real e então dizem, “Eu não faço isso, e vou provar a você, ao mundo e a Deus que não o faço, porque sou magro. Se eu fosse gordo, isso seria uma prova. Eu estaria andando por aí, dando testemunho ao fato de que sou um canibal vivo: fui eu que roubei Deus. Mas, se eu puder andar por aí magro o tempo todo, então, Deus não pode apontar o dedo para mim; Ele vai apontar o dedo para as pessoas gordas. Aí, eu magicamente espero que por não comer e por continuar magro, vou me salvar da ira de Deus e provar a Ele que não sou o culpado. As pessoas que têm que fazer isso são tão gordas quanto aquelas que o são fisicamente, porque elas são muito culpadas. É a culpa que é o sobre-preso, a obesidade. Portanto, dizer que eu quero ser magro é uma forma de dizer que eu quero ter a ilusão de ser inocente. Isso é sempre medido pela forma, e é por isso que nunca funciona.
Susan: Então, é por isso que queremos ser magros, basicamente; para termos a ilusão de não sermos os culpados. Eu não faço isso; outra pessoa sim.
Kenneth: Sim, e eu estar acima do peso, então, se torna um símbolo: eu canibalizei; eu roubei algo de fora e coloquei dentro de mim.
Susan: Isso é interessante porque nos leva de volta a outra coisa que você disse, e eu gostaria de mencionar novamente: por que as pessoas atacam as pessoas gordas, por que a sociedade tornou a gordura algo ruim. Você disse algo sobre atacá-la porque não queremos vê-la em nós mesmos. Você poderia falar disso outra vez?
Kenneth: Basicamente, isso iria se encaixar muito bem no que acabei de dizer. O cerne do sistema de pensamento do ego é o canibalismo. Nós canibalizamos Deus, e, quando o Curso fala sobre os relacionamentos especiais, ainda que não use a palavra “canibalismo”, é disso que está falando – que nós arrancamos a verdade de si mesma (T-16.V.10-11). Nós acreditamos ter roubado Deus e ter roubado uns dos outros. E se esse é o cerne do sistema do ego, é aí que nossa culpa está. Então, nossa culpa é baseada em nosso canibalismo, e aí, nós vivenciamos isso na forma, no corpo. Depois, nós fizemos um corpo que literalmente tem que canibalizar para poder sobreviver. Nós, portanto olhamos torto para os assim chamados primitivos que são canibais físicos, comendo carne humana. Mas é isso o que todos nós fazemos. Quer seja carne humana, carne animal, carne vegetal, ou seja o que for. É isso o que fazemos. E é aí que a culpa está. A única forma do ego poder sobreviver é roubar continuamente de Deus. Esse pensamento egóico então é incorporado em um corpo, o que significa que a única maneira do corpo egóico poder viver é roubar continuamente de outros corpos. E uma vez que é isso o que a comida faz, se eu tiver excesso de peso, essa é a prova de que sou a culpado. Mas todos nós sentimos isso, quer pesemos 45, 90 ou 226 quilos. Eu me sinto culpado porque roubei de Deus. Mas, se eu sou magro, tenho a ilusão de que sou inocente disso. E vejo você andando por aí com 115 quilos e digo, “Ah, meu Deus, essa é a prova; a prova de que eu não fiz isso”. E então, eu odeio você. Parte de mim está tentando se livrar disso, então, eu me sinto muito bem por você ser aquele que Deus vai punir. Mas, bem lá no fundo, sei que você está exibindo meu pecado diante de Deus, e, em algum ponto, Deus vai me encontrar.
Acho que essa é uma das razões pelas quais muitas pessoas nos Estados Unidos transformaram Nixon em um vilão durante sua gestão – porque ele foi pego. Seu erro foi em relação às fitas e ao arrombamento, e tudo o mais, porque todos roubam e trapaceiam – esse é o mundo do ego. Mas ele foi pego. E ele foi pego de tal forma que teve que deixar a presidência. Esse era o tanto que ele era mau. Nós o odiamos porque primeiro vimos o pecado nele. Mas o ódio real é que ele expôs isso para todos nós. E é por isso que odiamos todos os estupradores e todos os criminosos, e todos os que trapaceiam, e todos os rombos financeiros que sofremos com o comércio interno, títulos falsos, e tudo o mais – porque eles estão mostrando o que está profundamente dentro de todos os outros. E eu tentei tão duramente manter isso oculto. Então, eu emagreço, me mantenho magro, e estou em ótima forma, parecendo tão inocente. Aí, você passa na minha frente, explodindo de todos os lugares da sua roupa, e a gordura é muito protuberante – e, meu Deus, sou eu mesmo que estou vendo em você, e a odeio por isso.
Susan: Então, me diga por que em nossa sociedade americana as mulheres estão ficando mais magras? É popular nos movimentos femininos culpar os designers por isso, porque eles são tão gananciosos que só querem pessoas famintas em suas roupas. Mas isso é apenas realmente a superfície. O que está realmente acontecendo? Se você olhar para a moda hoje, em 1990, vai perceber que tem que ser muito mais magro do que tinha que ser em 1988 para usar as roupas que os designers estão agora exibindo.
Kenneth: Isso segue o mesmo padrão: a tentativa de parecer inocente. Então, ser magro é um valor real em nossa sociedade. Nem sempre foi assim. Havia culturas e épocas nas quais ser pesado era visto como um valor. Olhe para uma mulher nas pinturas de Rubens: elas são todas um pouco corpulentas, e isso era visto como algo desejável.
Judy: Durante os anos da Depressão, você sabe, isso era sinal de prosperidade.
Kenneth: É útil ver que isso é puramente relativo. Em outras palavras, é como você olha para isso, que é o ponto central do Curso, obviamente. (veja, e.g., T-21.V.1; T-22.III.3-8). Então, enquanto as formas mudam, o significado é sempre o mesmo. O significado é que eu decido qual forma vai provar que eu sou inocente, e que sou uma boa pessoa. Atualmente, uma das formas favoritas em nossa sociedade é ser magro. Então, a atração, a necessidade e a obsessão em estar magro é para dizer, “Eu sou inocente”.
Susan: Então, pelo fato de estarmos pedindo às mulheres para serem cada vez mais magras, nossa sociedade está se sentindo mais culpada, a culpa sendo só uma forma de dourar a pílula? Poderíamos fazer essa comparação?
Kenneth: Penso que existe um perigo em sugerir que nossa sociedade está ficando mais culpada – não estou certo de que esse é o caso. É apenas que a forma muda, e agora, a forma na qual vou demonstrar minha inocência é sendo magro. Durante a Depressão, mais uma vez, a forma na qual minha inocência seria manifestada seria sendo pesado, porque ser magro significaria que não tinha qualquer dinheiro e, em última instancia, significaria que Deus me puniu. Então, isso acaba se tornando que vou provar que Deus me ama porque sou gordo ou pareço realmente saudável. Isso prova que eu tenho dinheiro, prova que Deus não me puniu e arrancou de mim tudo o que era meu – da forma que Ele fez com Jó, por exemplo. É por isso que a história de Jó é uma história tão fantástica sobre o deus do ego, não o Deus real. Deus tira. Deus dá a você tudo, e depois Ele tira de você. Então, ter todo o meu dinheiro, e depois o perder em 1929, prova que sou um fracasso. O que roubei de Deus, Ele agora roubou de volta de mim. Ele me encontrou. Levou muito tempo, mas Ele me achou, e descobriu onde eu escondi todas as jóias e tudo o que roubei Dele. Ele tirou tudo de mim, e agora, não tenho nada. Portanto, ser magro prova que sou o culpado e que Deus me puniu. Assim, durante aquele período, a maneira de provar que Deus não me puniu – Ele puniu você – era eu ser gordo. Isso significaria que era próspero, o que significaria que não perdi meu dinheiro, o que significaria que Deus não o roubou de mim. Estou fora da mira. Em nossa época atual é diferente, mas é a mesma idéia.
Susan: Poderíamos dizer então que o que estamos fazendo é simplesmente seguindo esse sistema de pensamento até sua conclusão natural? Quero dizer, um ano você é magro, então, você tem que ser menos culpado, e aí quer ser um pouco mais magro no ano seguinte, talvez. Nunca estamos felizes com a comida; nunca vamos ser felizes com nossos corpos. Nunca vamos ser magros o suficiente; nunca vamos ser voluptuosos o suficiente. É por isso que existe a cirurgia plástica e todas essas coisas.
Kenneth: Certo. Nunca vamos ter o corpo perfeito. O que todos querem, quer seja um homem ou uma mulher, é terem um corpo perfeito. E você decide o que é perfeito. Então, em uma época, é ser magro, em outra, é ser gordo. E é um corpo perfeito porque quero negar o que o corpo realmente é. O corpo é o símbolo de que eu roubei Deus, que eu sou o maior pecador no mundo. O corpo, portanto, tem que ser imperfeito, o que obviamente acontece porque está sempre ruindo. O corpo tem que ser imperfeito porque vem de um pensamento imperfeito. Então, o que eu quero fazer é magicamente negar o pensamento imperfeito, porque é daí que vem toda a minha dor e miséria e culpa. Eu nego isso dizendo, “Mas veja, eu sou perfeito. Eu finalmente consegui fazer do meu corpo o que ele deveria ser; é o tamanho perfeito, a largura perfeita, o peso perfeito, a cor perfeita, o perfeito isso, o perfeito aquilo, e assim por diante. Eu finalmente fiz isso. Provei que sou inocente”. E então, no dia seguinte, eu levanto e algo ruiu. Eu tenho um resfriado, ou engordei um quilo, ou surgiu uma espinha, ou meu cabelo está ficando um pouco grisalho – e isso significa que Deus me encontrou. Minha defesa não funciona e não sou perfeito. Isso me leva diretamente de volta ao pensamento imperfeito, que é o de que sou culpado. E é por isso que não tem fim.
Judy: Ken, ao falar com Susan e Betty ontem, disse a elas que a maior parte da minha vida eu fui magra, e que é só recentemente que estou tendo um problema com meu peso, e eu disse que odiava a mim mesma tanto quanto odeio agora, senão ainda mais, quando era mais magra. Mas, no entanto, existe algo que simplesmente me mantém presa ao corpo. Eu meio que entrei nesse comportamento obsessivo também, porque estou evitando fazer outro trabalho que é muito mais importante do que me focalizar no meu corpo.
Kenneth: O corpo, é claro, é a grande distração, e é por isso que o ego o fez. É uma distração maravilhosa. Nós ou pensamos que ele é a salvação ou pensamos que é o inferno. E a salvação realmente vem quando reconhecemos que o corpo não faz qualquer diferença. O que importa é o propósito que damos a ele. Então, você poderia ser gorda ou ver a si mesma como gorda e não ficar aborrecida com isso, e ser grata porque essa é uma sala de aula na qual poderia aprender que o seu corpo não é quem você é (Veja e.g., T-19.IV-B.10,14).
Susan: Isso me faz voltar a outra pergunta que estive guardando, que você citou mais cedo – a idéia de que quando a culpa se vai, a gordura se vai. Isso também é um pouco duvidoso para mim, e me deixa um pouco nervosa.
Kenneth: Quando a culpa se vai, a obsessão com a gordura se vai – é isso que você quer. Você quer estar sem culpa, o que obviamente então significa estar sem a obsessão pela gordura. Mas o que você faz é estabelecer isso em sua mente de tal forma a provar que Jesus está errado.
Susan: Então, para mim, manter a gordura vai significar que isso não funciona: Jesus não está comigo, não importando quantas vezes eu peça a ele para se unir a mim; isso não vai funcionar para mim.
Kenneth: Sim, você quer isso do seu jeito. Não apenas você, mas todos. Nós queremos a salvação do nosso jeito. Basicamente, queremos ter nosso bolo e comê-lo. Queremos ter Deus, mas queremos ter Deus em nossa própria pequena caixinha. E então, você quer ser sem culpa, mas também quer estar sem a gordura – o que significa que ainda está tornando o corpo real, ainda está tornando a gordura real, todos os quais significam que ainda está presa.
Susan: Então, tão assustador quanto possa parecer, isso poderia ser parte do meu processo de perdoar a mim mesma – uma vez que tenho tal ódio intenso da gordura no meu próprio corpo –: aprender que posso ser gorda, mas pacífica também. Eu odeio pensar nisso.
Kenneth: Ah, sim. Acho que essa seria uma lição maravilhosa. Você pensa que não quer essa lição porque sua gordura é um grande problema. A razão real pela qual você não quer essa lição é que você vai realmente se sentir pacífica – é isso que você teme. Existe aquela maravilhosa seção no texto, “O medo da redenção”, onde Jesus diz que nosso medo real não é da crucificação: nosso terror é da redenção (T-13.III.1-5). É disso que você está realmente com medo: se você liberar sua obsessão em relação à gordura, vai ser feliz. E então, para proteger a si mesma de ser feliz, você continua enlouquecendo a respeito da comida e do seu corpo. Isso é estabelecido para que você nunca se sinta feliz, o que é exatamente o que seu ego quer.
Betty: Você estava falando sobre o corpo perfeito. Eu adorei a imagem de Susan de que quando você morre e finalmente vai ver Deus, lá está Ele... corpulento, ondulando em camadas de gordura. Ah, meu Deus, eu poderia ter sido gorda esse tempo todo – e feliz. Eu queria ser magra e a gordura era tudo o que realmente é!
Kenneth: E feliz. Pense em todas as estátuas do Buda gordo. Nós fazemos Deus à nossa própria imagem, obviamente, mas a idéia seria a de que você poderia simplesmente ser tão feliz nesse mundo estando acima do peso, quanto abaixo do peso ou magra.
Betty: Temos falado sobre toda a nossa insatisfação com o corpo, quero dizer, se os cabelos são crespos ou lisos, ou se são longos ou curtos, ou se faz maquiagem ou não, ou se usa tênis, ou seja o que for.
Kenneth: Tudo é a mesma coisa. Nós nos identificamos com nossos corpos, e em um sentido, o objetivo do ego é o mesmo que o do Espírito Santo, mas termina de forma totalmente diferente. O objetivo do Espírito Santo, obviamente, é que sejamos sem culpa. É isso que o ego nos diz que é o seu objetivo para nós também. Ele nos diz que vamos ser sem culpa. Seu objetivo subjacente, seu verdadeiro objetivo, é claro, é nos manter culpados. Mas ele nos diz que seu objetivo é que fiquemos sem culpa, e então, ele pega a culpa em nossas mentes e a projeta no corpo. Então, nós dizemos que o corpo é o problema – agora, temos algo mais tangível. O que realmente acontece é que a culpa na mente permanece lá. Então, agora a culpa está no corpo, e o ego diz, “Bem, agora vou tornar seu corpo perfeito. E depois, você se sentirá sem culpa e vai se sentir maravilhoso”. Uma das formas principais disso – e é por isso que estamos aqui hoje – é a crença em que o que vai me deixar sem culpa e o que vai me fazer sentir bem é ser magro. E aí, ouço o plano do meu ego para a salvação, e é isso o que ele é: sua tradução é, “Vou ser magro”. Então, eu luto e luto para me tornar magro. O ego está sempre preocupado com o corpo. A culpa em minha mente repousa muito segura e feliz, e nunca é tocada.
Susan: Você sabe, é muito difícil ver que nós projetamos em nossos corpos da mesma forma que projetamos nas pessoas. Se eu ficar transtornado com algo que Betty fizer, se eu a acusar de ser egoísta e ficar mesmo transtornada, posso ver que projetei em Betty uma auto-acusação de ser egoísta, e a pessoa que tenho que perdoar é a mim mesma. Mas, quando fazemos isso com nossos corpos, uma vez que nos identificamos apenas como corpos, é muito difícil entender que estou projetando no meu corpo. Quando estou acusando meu corpo de não poder ser amado pelo fato de ser gorda, é apenas outra projeção, como se eu estivesse fazendo isso com Betty.
Kenneth: Não é diferente, porque seu corpo está fora da sua mente tanto quanto o corpo de Betty. Não faz diferença.
Susan: Isso é mais difícil de ver para mim.
Kenneth: Sim, mas essa é a saída para você: perceber que você está ajeitando tudo para que sempre se sinta culpada, e então, possa culpar outra pessoa. Em última instância, você vai culpar a Deus por isso. Em um sentido, você escreveu as regras e tem todas as cartas, porque você poderia controlar se o seu corpo ganha peso ou não. Se o seu propósito é provar que Deus é um mentiroso e que você é um fracasso, você poderia fazer isso porque estabeleceu as regras para que vá ganhar peso e, portanto, sempre vai ganhar peso.
Susan: Você vai falar sobre isso? Eu ouvi você dizer antes que a gente não engorda por causa das calorias na comida, mas por causa de uma decisão que tomou.
Kenneth: Certo – assim como fumar não lhe dá câncer: a culpa lhe dá câncer. Uma decisão de ser culpado na sua mente é o que lhe dá câncer. É a mesma coisa. Você ganha peso porque sua mente dá ao seu corpo uma instrução que diz, “Ganhe peso, porque é isso que vai provar que você é feio, sem valor, pecador e separado”. Como Betty continua dizendo, a comida mantém você separado. Ela certamente mantém você separado do seu Ser real. Ela mantém você separado do Amor de Deus em você. Mantém você separado de Jesus porque você o culpa. E o mantém separado das outras pessoas porque está com muita vergonha de si mesmo. E assim por diante. Ganhar peso, então, vem do desejo de ser separado – um desejo de culpar a si mesmo, um desejo de ser culpado. Foi a mente, a mente egóica, que fez o corpo e as leis do corpo. Agora, uma das leis do corpo é que se você comer cinco sundaes com calda de chocolate quente, vai ganhar peso. Você vai ficar um pouco doente também, mas vai aumentar seu peso. É isso o que faz você ganhar peso. É a mesma idéia que dizer que se eu levantar esse relógio e deixá-lo cair, ele vai cair até o chão por causa da lei da gravidade. Ele não cai por causa da lei da gravidade – não existe lei da gravidade[4]. A mente fez a lei da gravidade que diz que se eu segurar o relógio e o jogar, ele vai cair. Mas, se minha mente mudasse essa lei, se minha mente mudasse o que quer, então, eu podia soltar o relógio e ele iria flutuar no ar. Ele não cai por causa da lei da gravidade; ele cai porque nós fizemos a lei da gravidade e nos colocamos sob seu domínio.
Susan: É por isso que algumas pessoas podem comer quantidades absurdas de comida e não ganharem peso, e outras comem pouco e ganham peso.
Kenneth: Sim – porque foi assim que nossas mentes foram estabelecidas. Então, aqueles de nós que têm sobrepeso se sentem culpados e terríveis porque nós comemos e ganhamos peso, e existe outra pessoa que come e não engorda nada. Não aceitamos a responsabilidade por termos feito a nós mesmos dessa forma. Eu poderia perceber, no entanto, que fiz a mim mesmo dessa forma para que pudesse me sentir culpado em relação ao que estou fazendo. Então, o que quero mudar não é a aparência do meu corpo; o que eu quero mudar é como minha mente pensa (T-21.in.1). Tudo está na minha mente: eu engordo quando como sundaes com cobertura quente porque eu programei a mim mesmo dessa forma.
Susan: O sundae é o vilão para mim.
Kenneth: Sim, ele é o vilão para você porque você estabeleceu o mundo em termos de alimentos bons e maus. O que você realmente fez foi projetar no mundo e na comida uma divisão que está na sua mente. Existe o bem e o mal em você; e a divisão final é as duas facções que guerreiam entre si na mente: o ego e o Espírito Santo. Meu ego é bom e o Espírito Santo é mau. Mas tudo é visto em termos de dicotomia e opostos. Essa é a divisão que você colocou no mundo: existem os bons e os maus alimentos. Então, existe uma Susan boa e uma Susan ruim. Existe a Susan boa quando ela come comida boa, e a Susan ruim quando come comida ruim.
Betty: Hoje em dia, as teorias vigentes sobre vícios vêem o comer compulsivo como evitar os sentimentos. Eles falam sobre sentimentos agora. Então, você está falando sobre sentimentos de culpa; eles falam sobre sentimentos de dor e perda. É tudo a mesma coisa.
Kenneth: Sim, é basicamente tudo a mesma coisa. Eu acho que o Curso leva isso ainda um passo adiante. Comer é uma maneira de bloquear os sentimentos. Eu estou ansioso, e então, bloqueio isso. Eu vou me empanturrar de camadas de comida, camadas de álcool ou camadas de drogas, ou qualquer que seja o vício – dinheiro, posses, ou sexo. Qualquer que seja a obsessão, isso vai encobrir a ansiedade e a dor. Então, nesse sentido, isso seria similar.
Betty: Podemos falar sobre a ansiedade e a dor? Eu disse antes que se você parar de comer, então, vai realmente entrar em contato com um pouco daquela culpa e depois olhar para isso, e vai se libertar para realmente lidar com isso junto com o Espírito Santo. Mas agora vamos falar nesses termos: estou fazendo isso para aliviar a ansiedade, e não tenho que sentir dor, e não tenho que... Então, o que são os sentimentos?
Kenneth: Uma das coisas que o ego tem feito é tornar tudo muito, muito complicado. Existe apenas um sentimento na mente, que é a culpa – ou nós poderíamos usar a palavra “medo”. Você poderia falar sobre sentimentos de ansiedade, sentimentos de pânico, sentimentos de inadequação, sentimentos de insegurança, etc., etc.; mas todos eles basicamente vêm da mesma coisa. É para isso que não queremos olhar. O que o ego faz é pegar os sentimentos de culpa ou a crença na culpa que está na mente, transferi-los para o corpo, e depois teremos certos sentimentos no corpo, quer seja no corpo físico ou no corpo psicológico (a personalidade da pessoa). Então, é disso que temos que cuidar (T-18.VI.2-6; T-18.IX.4-5).
Veja, o ego sempre nos leva cada vez mais longe do lugar onde o problema está. O problema, em última instância, é a culpa na minha mente: eu me sinto não-merecedor do Amor de Deus, porque acredito que me separei Dele. Eu transfiro isso para o meu corpo, e depois me sinto mal, por exemplo, porque fui privado quando era criança. Esse sentimento emocional de ter sido privado como criança não tem nada a ver com os meus pais; em última instância, ele tem a ver com o que eu fiz com Deus. Isso é traduzido diretamente no sentimento corporal de vazio: existe uma falta em mim e eu tenho que enchê-la de comida. Então, a comida se torna o significado simbólico do amor, o que obviamente acontece. Assim, eu me sinto privado de amor, em falta de amor, e aí, tenho que encher meu corpo de amor, que é a comida. Eu não quero lidar com o sentimento de dor de que meus pais não me amaram, então, simplesmente me encho de comida. Mais uma vez, como eu disse no início, a cada vez em que ingiro um bocado de comida, estou crucificando meus pais e dizendo, “Se vocês tivessem me amado e se tivessem sido sustentadores como deveriam, então, eu não teria que me fartar e parecer tão feio e gordo – é tudo sua culpa”. Nesse sentido, o que as pessoas estão falando é verdadeiro: a comida é uma defesa. É uma defesa contra olhar para mim mesmo.
Agora, onde o Curso iria diferir é em dizer contra o que a comida é uma defesa: não é o que aconteceu há quarenta anos, quando meus pais não me deram amor suficiente. Isso é uma defesa contra uma decisão que estou tomando nesse exato instante. Mas que isso é uma defesa é verdade – comer demais é uma defesa, assim como comer de menos é uma defesa. É uma forma de nos manter longe de sentimentos ou pensamentos que estão sob isso. Mais uma vez, o Curso redefine o que esses pensamentos são.
Betty: Você acabou de equacionar culpa a medo. Poderia apenas falar sobre isso um minuto?
Kenneth: Basicamente, como você sabe, eu falo sobre o pecado, culpa e medo. Nós nos sentimos pecadores porque nos separamos de Deus. Nós nos sentimos pecadores por causa do que fizemos, e depois ficamos com medo da punição de Deus (veja p.2 acima). Nós falamos sobre eles como se fossem entidades distintas. Essa é uma forma fácil de falar sobre eles, porque nossas mentes estão orientadas a pensarem em termos lineares. Na realidade, é tudo a mesma coisa. É uma constelação do mesmo pensamento. O Curso com freqüência vai de um lado para outro entre o pecado e a culpa, ou a culpa e o medo. E então, foi isso realmente que fizemos. A seção “As duas emoções” fala sobre o medo e o amor: “um tu fizeste, o outro foi dado a ti” (T-13.V.10). Então, Deus nos deu amor e nós o substituímos por medo. Mas você pode com a mesma facilidade usar a palavra “culpa”. E basicamente não é uma emoção, ainda que essa seção fale sobre emoções. O amor certamente não é uma emoção. O Amor de Deus não é uma emoção como a conhecemos. E o medo realmente é um pensamento. Nós o experienciamos como uma emoção porque os pensamentos são traduzidos em experiências corporais para nós pelo ego. Então, eu sinto medo e sei o que é o medo, e nós falamos sobre o medo como uma emoção. Mas, em última instância, ele é um pensamento. Ele é o pensamento de estar separado de Deus e o pensamento de ser punido. Então, eu sinto minha adrenalina aumentar e me sinto muito ansioso, e sinto que tenho que minar o sentimento ou sufocá-lo – escapar dele, etc. Mas é basicamente um único pensamento.
Susan: Em termos do que Betty acabou de dizer, não existe mágica também. Embora não exista nada errado com ela, não existe mágica para chegarmos a esses sentimentos. Em outras palavras, o que Betty está dizendo é que o pensamento prevalente na teoria sobre os vícios é que você está sufocando os sentimentos, e a melhor coisa a se fazer é parar de sufocá-los: lidar com os sentimentos. Mas isso é uma armadilha também. Não existe mágica em lugar algum. Quero dizer, realmente não importa. Poderia funcionar para você; poderia ser útil, mas não é o caminho mais certo para se fazer isso.
Kenneth: Isso mesmo.
Susan: Uma vez que todos esses sentimentos estão representados em tudo o que fazemos de qualquer forma, e é tudo apenas culpa, então, a única coisa que “funciona” é convidar o Espírito Santo a entrar. É isso o que você está dizendo?
Kenneth: Sim, absolutamente certo. Esse é o ponto de partida: reconhecer que todos os nossos problemas vêm da culpa, e que a culpa deriva da crença em sermos separados de Deus. Esse é o problema. O Curso diz de novo e de novo o quanto isso é simples – existe um único problema, e uma única solução. O problema é a separação, e a solução é o Espírito Santo (LE-pI.79,80). O que nós fazemos é pegar essa culpa, que é abstrata, e que é o pensamento profundamente enterrado em nossas mentes, e depois projetá-la no corpo. A forma que a culpa assume – que estamos discutindo especificamente aqui – é a forma de excesso de peso e comer demais. Eu me sinto culpado, e então me sinto gordo e feio. E isso prova para mim o quanto sou sem valor e culpado. Se eu pudesse sempre ter claro que o problema não é o número na balança pela manhã, mas ao invés disso, que eu me sinto separado de Deus, e se eu pudesse continuar mantendo isso em mente, então, a solução não seria baixar o número na balança, mas convidar o Espírito Santo para olhar para o problema comigo. Esse é sempre o ponto de partida. Por exemplo, eu posso convidá-Lo para tomar um sundae de calda quente comigo, e depois me sentir bem sobre isso e bem comigo mesmo também. Eu iria me sentir bem a meu respeito por causa da Presença Amorosa que chamei à minha consciência. É isso o que eu quero. Então, o Espírito Santo me ajuda a olhar para minha obsessão com a comida e para minha fome voraz, e me diz que isso não é um grande problema: “Sua fome real é por Mim, e estou bem aqui com você. Eu sou o que você quer, não o sundae com calda. Mas, até você poder Me aceitar e aceitar o Meu Amor, vou me unir a você ao comer o sundae”.
Helen costumava levar Jesus com ela quando ia fazer compras. Ela era obcecada com compras. Ela também era obcecada com comida, mas resolveu o problema sendo muito restrita consigo mesma. Helen sempre sentiu que Jesus ia com ela e lhe dizia onde fazer compras. Era reconfortante para ela sentir que ele não a estava condenando nem julgando. E ele nem uma vez disse a ela para não fazer compras, até muitos, muitos anos depois[5].
Uma tarde, eu me lembro de ter saído do Centro Médico para ir fazer compras. Nós costumávamos ir pela Quinta Avenida até a Lord & Taylor e a Altmans, e então íamos a todas as lojas de sapatos da Avenida 34. Esse era o nosso ritual. Naquele dia, Helen disse, “Ele me disse” (ela nem sempre dizia “Jesus”), “que eu não deveria mais fazer isso – que não era mais uma coisa boa para mim”[6]. Agora, isso aconteceu depois de muitos e muitos anos. Desse ponto em diante, nunca mais fomos fazer compras – certamente não aquele tipo voraz e obsessivo de compras. Mas levou muito, muito tempo. E sua experiência, que era realmente importante para ela, era a de que Jesus não a condenava porque ela estava usando suas roupas e suas compras para evitá-lo. Era óbvio que era isso o que ela estava fazendo. Iríamos passar várias horas no sábado indo a todas essas lojas sem nunca encontrar qualquer coisa, apenas para – no final do dia – passarmos meia hora rezando junto com Jesus. Era quase como se ela tivesse que fazer todas essas coisas primeiro, para que depois pudesse passar vinte minutos ou meia hora com ele. O dia todo estava destinado, em certo sentido, como uma distração em relação a ele, e ao mesmo tempo, era sua forma de fazer transigências e dizer, “Bem, vou lhe dar um pouco de tempo depois, mas você vai ter que me dar várias horas”.
Susan: Estamos fazendo a mesma coisa em relação à comida.
Kenneth: Exatamente.
Susan: Vamos a todos os restaurantes, comeremos todas as comidas, teremos todas as refeições e talvez depois...
Kenneth: Então, nós dizemos a Jesus, “Se eu tiver ganhado qualquer peso, então, ao inferno com você; não vou deixá-lo de forma alguma”. A idéia é levá-lo com você, quer “ele” seja Jesus ou o Espírito Santo ou Deus – qualquer termo que você vá usar. Isso a capacita a não se sentir tão culpada. E esse é o propósito. A idéia é sempre manter em mente qual é o propósito – e ele não é você ser magra. O propósito é você se sentir bem sobre si mesma. Mas se sentir-se bem sobre si mesma estiver ligado ao tamanho da sua cintura, então, você estará acabada. Por outro lado, se sentir-se bem sobre si mesma estiver ligado à Presença do Espírito Santo em sua mente, então, o fim será feliz. Essa Presença é constante, e nunca muda. Essa é a idéia. Esse é o valor de abrir espaço para Jesus estar com você, quer seja comendo “boa” comida ou comida “ruim”. Isso é realmente o que você tem que aprender: que ele vai estar com você quando você comer saladas, e vai estar com você quando você comer sundaes com calda quente. Essa é a maneira de ensiná-la que isso não faz qualquer diferença: “Meu amor por você não depende de você ser boa ou má”.
Susan: É como uma das primeiras lições do livro de exercícios que diz para olharmos ao redor do quarto, mas não excluirmos coisa alguma (LE-pI.1,3; LE-pI.2.2). Você está dizendo a mesma coisa.
Kenneth: Exatamente a mesma coisa.
Susan: Simplesmente soa muito simples. Não fácil, mas agora, a cada passo do caminho, não importando qual ele seja, não importando o que você está fazendo, não importando qual julgamento você fez sobre isso, convide o Espírito Santo a entrar; ponto final. Fim da história.
Kenneth: É isso o que você faz. Então, olhe com Ele, dê um passo atrás e O observe enquanto você se farta, ou enquanto come uma salada com apenas 150 calorias. Dê um passo atrás e observe com Ele enquanto faz isso. É isso que vai ajudá-la a começar a colocar uma distância entre você mesma e a comida, e mudar o propósito da comida. A comida então se torna santa, em vez de um símbolo da sua não-santidade, da sua culpa, da sua pecaminosidade, do seu fracasso. Ela se torna um símbolo lhe dizendo que esse é o caminho através do qual Jesus ou o Espírito Santo vai lhe ensinar que Ele a ama (LE-pII.5.4; T-8.VII.3).
Susan: Mesmo quando você está se fartando.
Kenneth: Mesmo quando você está se fartando. Não faz qualquer diferença.
Susan: Porque você está fazendo isso com o Espírito Santo.
Betty: O Espírito Santo usa tudo. Com o Espírito Santo, tudo pode se tornar uma lição de perdão.
Kenneth: Certo. Esse propósito de perdão então se torna a importância de tudo no mundo. Na realidade, você deveria pensar sobre isso muito literalmente em termos de comida. Existe outra linha no Curso que diz que o Espírito Santo nunca tira seus relacionamentos especiais de você; Ele os transforma (T-17.IV.2; T-18.II.6). Ele nunca vai tirar os sundaes com calda de você – Ele vai transformar seu significado. E, quando o significado muda, com o tempo, a fome por ele vai mudar. A fome pelo sundae com calda é para punir a você mesma, e manter Deus longe, e para manter seu verdadeiro Ser longe de você – esse é o “verdadeiro” significado disso. Essa é a fome por tudo isso. Quando você leva Deus com você, então, a coisa toda muda e é aí que a ânsia se vai. Mas você não pode sabotar isso por depois pular sobre a balança.
Susan: Mas se você subir na balança, convide o Espírito Santo mais uma vez. E, também, quando você ficar transtornado pelos números terem subido, convide o Espírito Santo mais uma vez, e não importando aonde seu ego vá, você o segue de perto com o Espírito Santo bem ao seu lado. Então, simplesmente continua fazendo isso.
Kenneth: Essa é a resposta.
Susan: E então, a única fé pedida aqui, é a fé que se você fizer isso com o Espírito Santo ou com o Amor de Deus, ou a memória de Deus, ou seja o que for, eventualmente, vai se sentir melhor.
Kenneth: Isso mesmo. E então, você pára: eu vou me sentir melhor; não vou ser magro – vou me sentir melhor.
Susan: Então, seu foco tem que estar em se sentir melhor, não em nada mais.
Kenneth: Sim, esse é o objetivo. Como já dissemos, você estabelece o objetivo primeiro. Existe uma seção no texto chamada “Estabelecer a meta”, que explica isso otimamente (T-17.VI). Se o objetivo é ser magro, então, é isso o que consegue, mas não vai encontrar a paz. Se o meu objetivo é ser sem culpa, me sentir bem sobre mim mesmo e sentir o Amor de Deus dentro de mim, então, vou ver o ato de comer o sundae com calda quente como o meio de alcançar esse fim. Se eu vir o objetivo como o de perder peso, então, vou ver que o objetivo de não comer o sundae é perder peso, e provavelmente vou falhar, porque isso foi estabelecido para falhar. Mas, se eu vir o ato de comer o sundae como o meio de alcançar a meta de ser sem culpa, e comer o sundae com Jesus ao meu lado, vou me sentir sem culpa, e então, venci, e Jesus venceu também. Veja, a sua maneira é que alguém vai vencer e alguém vai perder. Você vai estar certa, e vai provar que ele está errado. Se a meta, no entanto, é que ambos estão certos, e que ambos estão certos porque eu quero ser sem culpa, e esse é o propósito de eu comer – quer seja um sundae ou uma cenoura – então, vou comer, me sentir sem culpa, e dizer, “Realmente funciona”.
Susan: Então esse também seria o propósito da minha gordura. O propósito da minha gordura, porque eu segui você, passei por todos os passos, e estou comendo os sundaes e comendo qualquer tipo de comida, e sou gorda – o propósito da gordura vai provar que eu sou sem culpa: usar a gordura como a lição transformadora de que Deus me ama.
Kenneth: Certo. E a gordura então se torna sua amiga. Existe uma linha maravilhosa no manual para professores que diz, “Não te desesperes, então, por causa das limitações [ele está se referindo às limitações do corpo]. É tua função escapar delas, mas não ser sem elas” (MP-26.4:1-2). Nós podemos traduzir agora em termos de gordura: “Não se desespere, então, por causa das limitações da sua gordura. É sua função escapar dela, mas não ser sem a gordura”. Em outras palavras, é sua função escapar da culpa e da raiva, da falta de esperança, do desespero, inadequação e auto-ódio que você associou com a gordura; mas sua função não é ser sem ela. Isso não significa que você não vai estar sem ela algum dia, mas que essa não é a função. A função é escapar da culpa ou da interpretação que você colocou sobre a gordura. Se for isso que é a lição, então, você será grata à gordura, porque aprendeu uma lição que teria levados milhares e milhares de anos para aprender dentro da ilusão do tempo – que é a lição de que você é sem culpa.
Susan: E então, a intensidade do meu ódio em relação à gordura será a intensidade da minha cura, a profundidade da minha cura, uma vez que eu realmente aprenda essa lição – eu agora seja criada nesse nível. É isso o que você está dizendo?
Kenneth: É isso que estou dizendo.
Susan: Eu nunca pensei que seria feliz por ser gorda. Uau!
Betty: Espere, isso ainda não aconteceu.
Kenneth: Deixem-me ler algo como uma forma de encerrar. É do livro de exercícios, a seção que responde à pergunta, “O que é o corpo?”. Vou ler só uma parte disso. Podemos traduzi-la em termos do que fizemos com o tópico do sobrepeso: nós fizemos o corpo para atacar e manter Deus distante, e nós fizemos a gordura como uma forma de provar que tivemos sucesso. Nosso corpo, então, se tornou um símbolo terrível do nosso pecado contra Deus. O corpo não desaparece e nem o sobrepeso desaparece; mas a função muda, e, por mudar essa função, ou o propósito do corpo, ele então se torna santo. Basicamente, o que fizemos com o corpo é que o usamos para nos identificarmos com nossa culpa e medo, como uma defesa contra o que realmente queremos nos identificar, que é o Amor de Deus ou o Amor de Cristo que nós somos. Aquilo com o que nos identificarmos é o que vai provar a nós quem nós somos. A seção termina com a idéia de que deveríamos nos identificar com o amor e não com o corpo. E então, é possível usar o corpo como o meio de nos lembrarmos de que somos realmente amor, e trazer o Espírito Santo ou Jesus conosco é o que faz isso. Mais uma vez, é tudo uma questão do que o corpo é para nós. Então, vamos encerrar com minha leitura de partes dessa seção do livro de exercícios:
O corpo é uma cerca que o Filho de Deus imagina ter construído para separar partes do seu Ser de outras partes. É dentro dessa cerca que ele pensa viver, para morrer quando ela decair e desmoronar. Pois no interior dessa cerca, ele pensa estar a salvo do amor. Identificando-se com a própria segurança, ele considera ser aquilo que é a sua segurança. De que outro modo poderia ele ter certeza de permanecer dentro do corpo, mantendo o amor do lado de fora?...
O corpo é um sonho. Como outros sonhos, ele às vezes parece retratar a felicidade, mas pode retroceder subitamente para o medo, onde nascem todos os sonhos. Pois só o amor cria em verdade e a verdade nunca tem medo. Feito para ter medo, o corpo tem que servir ao propósito que lhe é dado. Mas podemos mudar o propósito ao qual o corpo obedecerá mudando o nosso pensamento quanto ao quê ele serve.
O corpo é o meio pelo qual o Filho de Deus retorna à sanidade. Apesar de ter sido feito para cercá-lo irremediavelmente no inferno, a perseguição do inferno foi trocada pela meta do Céu. O Filho de Deus estende a mão para alcançar o seu irmão e para ajudá-lo a caminhar pela estrada junto com ele. Agora o corpo é santo. Agora, ele serve para curar a mente que ele tinha sido feito para matar.
Tu te identificarás com aquilo que pensas ser a tua segurança. O que quer que seja, acreditarás que és um com ela. A tua segurança está na verdade e não em mentiras. A tua segurança é o amor. O medo não existe. Identifica-te com o amor e estás seguro. Identifica-te com o amor e estás em casa. Identifica-te com o amor e achas o teu Ser. (LE-pII.5.1,3-5).
[1] Ausência de Felicidade: A história de Helen Schucman e Sua Transcrição do Um Curso em Milagres, 2ª.ed., p. 76-77.
[2] O final do manual para professores (MP-29.3:3) enfatiza como buscar a orientação do Espírito Santo coloca um fim na culpa. Uma vez que escolhemos nos reunir ao Amor de Deus em vez de continuarmos separados dele, somos capazes de finalmente corrigir o equívoco que fizemos no instante original, então, o amor agora toma o lugar do terror.
[3] Lembrem-se novamente da Introdução, e da nossa discussão sobre os princípios metafísicos do Curso.
[4] Estou falando metafisicamente. Na realidade, não existe lei da gravidade, uma vez que não existe universo material. O mundo é simplesmente um pensamento de separação em nossas mentes; um pensamento que está profundamente enterrado em nossas mentes inconscientes, e é compartilhado por quase todas as outras pessoas.
[5] Ausência de Felicidade, 2ª.ed., PP.229-230, 426-27).
[6] Com isso, Jesus quis dizer que Helen agora era capaz de liberar suas defesas contra ele.
Nessa lição muito linda, Jesus diz, “Ninguém aqui deixa de saber do que falamos”. Esse mundo não é o nosso lar; não pertencemos a ele; existe algo faltando. Mas então, é claro, o que as pessoas fazem, como a lição também explica, é encobrirem esses sentimentos e se unirem em especialismo aos outros. Nós nos mantemos ocupados e fazemos todos os tipos de coisas: tentamos tornar nossos corpos mais bonitos, nossos apartamentos e lares mais bonitos, nosso planeta mais bonito; queremos tornar tudo bonito, porque é aqui que vivemos. É claro, isso nunca funciona. Esse é o anseio e a fome que todos têm. O que o ego sempre faz é transferir essa fome e esse anseio da mente para o corpo. Essa é outra forma de entender por que o corpo foi feito da forma que foi. O corpo está sempre ficando com fome. Acho que, para propósitos práticos, podemos deixar de lado a fome normal que o corpo vai experimentar através do dia, assim como a necessidade normal de dormir. Isso é parte do sistema do ego, mas basicamente existem limites normais. Vamos falar, ao invés disso, sobre a fome anormal, voraz, que você sente mesmo quando acabou de comer há uma hora, e seu corpo não está precisando de comida – ou você sente que tem que dormir quatorze ou quinze hora por dia, quando seu corpo não precisa disso. É disso que estamos falando: a fome e necessidade excessivas.
Isso é realmente o ego pegando o senso de ansiedade e falta, os sentimentos que todos temos de sermos órfãos e sem lar, e transferindo-os para o corpo. Então, passo a ter necessidade de lidar com os sentimentos físicos de estar faminto e assim por diante. O Curso também explica que o corpo não sente nada de forma alguma. Não é o corpo que sente fome; não é o corpo que sente impulsos sexuais ou dor; é a mente que então transfere sua crença de falta para o corpo (T-19.IV-C.5:2-4; T-28.VI.1-2). Aí, isso se torna um estratagema de distração, uma cortina de fumaça, porque sentimos que é o corpo que tem que ser saciado; e então, vamos atrás de qualquer coisa que vá fazer isso. Mas isso nunca funciona, porque o anseio subjacente nunca é preenchido. É por isso que o sistema é “perfeito”, porque ele se perpetua continuamente. É por isso que, assim como você estava dizendo, Betty, nunca é suficiente: eu quero mais e mais. É o ego continuamente nos forçando a nos focalizarmos no corpo em vez de no mundo, o que vai prover o corpo com o que ele precisa, para que nunca consigamos o que realmente precisamos. Mais uma vez, se eu puder iniciar a idéia de convidar Jesus ou o Espírito Santo para se unirem a mim quando for comer, quer eu coma de forma sensata ou me delicie, vou começar a desfazer aquele sistema de pensamento.
Susan: Então, o comportamento realmente não importa.
Kenneth: Comportamento não importa – isso é o que aprisiona você o tempo todo. É aí que você sempre pega Jesus, você vê. O que ele promete a você é paz, amor, felicidade e inocência na sua mente; e você diz, “Eu não quero isso, eu quero um corpo magro”. Você estabelece a condição dessa forma – como a história que contei sobre Helen e sua exigência inegociável de Deus[1]. Você diz a Jesus que isso é inegociável: eu quero perder nove quilos.
Susan: Certo.
Betty: E se você me amasse, iria permitir que isso acontecesse.
Susan: Sim, você iria fazer com que isso acontecesse.
Kenneth: Isso mesmo. E inconscientemente, você estabeleceu que não vai perder os nove quilos. Veja, foi você que escolheu ganhar os nove quilos, não ele. Mas você se esqueceu disso, e depois o culpa. É um sistema invulnerável. Como o Curso diz: o sistema do ego é à prova de tolos – não à prova de Deus, mas à prova de tolos (T-5.VI.10). Ele é hermético em si mesmo. Então, você se sente perfeitamente justificada em desistir dele, desistir do seu Curso, desistir das dietas, desistir de tudo. Aí, você se sente tão mal, que simplesmente come ainda mais; mas o que você tem que fazer é perceber que a coisa toda foi inventada. Você está estabelecendo isso de maneira a falhar. O Curso diz que a máxima do ego é “busque, mas não ache” (T-12.IV.1). É isso o que você está fazendo, porque você pode estar fazendo o que ele lhe pede em termos de convidá-lo a entrar, mas está fazendo apenas parte disso. Você está fazendo a forma, mas não o conteúdo.
Susan: Então, estou fazendo a forma. E, é claro, não a estou fazendo universalmente: eu separo a comida, as circunstâncias nas quais convido o Espírito Santo. Então, você está dizendo para convidar o Espírito Santo a entrar em tudo? Apenas continuar generalizando?
Kenneth: O ponto central todo que já discutimos outra vez sobre os sundaes com calda de chocolate quente é que se você pudesse comer um sundae de chocolate com Jesus ou com o Espírito Santo ao seu lado, então, não haveria qualquer culpa[2]. Isso funciona, e realmente funcionou para você até seu ego pular para frente, sabotá-lo, e dizer, “O que você quer dizer com funcionou? Você engordou 2 quilos essa noite”! Mas você perdeu dois quilos de culpa, e isso o ego não lhe diz. O que você realmente quer aprender é que você é sem culpa, e não importando o que acreditar ter feito a Deus ou a Jesus, isso não teve efeito sobre Seu amor por você. É isso o que você realmente quer aprender. E seu ego está com tanto medo que diz “Não, não, não, eu não quero aprender isso; quero perder peso”.
Judy: Então, o que acontece é que seu objetivo continua mudando. Ela quer se assegurar do resultado, que é o de que ela perca quilos na balança, mas o objetivo realmente é estar com Deus – você sabe, alinhar-se com o Espírito Santo para que seu relacionamento com Deus se aprofunde. Mas eu vejo que sempre existe inconsistência aí; nós não ficamos consistentemente nessa companhia.
Kenneth: Isso é assim porque estamos com medo da meta. Mas o que você quer fazer, como o Curso diz em muitos trechos diferentes, é manter seus olhos, sua mente, sempre focalizados na meta (veja, e.g., T-17.VI; T-20.VII0. O objetivo é ser sem culpa, e se sentir amoroso e pacífico. A inconsistência de que Judy está falando é a de que nós ficamos com medo dessa meta, porque para o ego, ser sem culpa é ser culpado. Esse é o problema. Mas então, o que você faz é o que todos fazem quando isso falha: em vez de dizer, “Ah, falhou porque eu estava com medo de ser sem culpa”, nós dizemos que falhou porque Jesus não veio, ou ele mentiu para mim, ou o Curso não é verdadeiro.
Susan: Ou que o Curso não funciona.
Betty: Também, que não vamos alcançar a salvação até que todos nós o façamos. Isso é muito difícil para mim. Eu posso alcançar alguma perda momentânea de culpa, e então, isso não importa. Eu não me importo com a balança e as roupas que continuo comprando maiores, mas o resto da Filiação vai olhar para mim e ficar bem “desagradável”.
Kenneth: Por que você os está atrasando?
Betty: Não, porque eles também não são sem culpa. E então, vão ver minha gordura.
Kenneth: Certo. E eles vão atacá-la porque não querem vê-la em si mesmos.
Betty: Então, é difícil para mim andar por aí me sentindo bem, quando outras pessoas não querem ficar perto de mim porque sou gorda.
Kenneth: Mas, se elas forem boas estudantes do Um Curso em Milagres, o que é responsabilidade delas não sua, vão reconhecer que quando ficam zangadas com Betty ou transtornadas porque ela está acima do peso, é realmente por causa delas mesmas. E então, elas deveriam se sentir gratas a você, porque você é a tela na qual elas podem projetar sua própria gordura interna.
Betty: Então, eu me sinto abandonada por elas, porque existe agora uma separação entre nós.
Kenneth: Não tem que existir. Não tem que haver uma separação na sua mente. Você sabe, você poderia ver essas pessoas como seus irmãos e irmãs. Elas podem manifestar sua culpa de outras formas que não seja ganhando peso, e você a manifesta estando acima do peso. Mas vocês ainda são irmãos e irmãs porque vocês compartilham o mesmo sistema de pensamento do ego. Vocês também compartilham a mesma ânsia por Deus, mas é por isso que aquela lição do livro de exercícios é tão útil. Todos nós compartilhamos a mesma ânsia de voltarmos para casa, e não sabemos como fazê-lo. Nós não sabemos onde ela está. De fato, sentimos que a perdemos e que estamos presos aqui. É como estar em um oceano em um bote salva-vidas. Você sabe que essa não é sua casa, não sabe onde o lar está, e não pode chegar lá – você está simplesmente em um miserável bote salva-vidas, no meio do oceano. Se você percebesse que todos estão em um bote salva-vidas, veria que a maneira de sair dali é se unir aos outros botes salva-vidas, para que vocês possam todos juntos ir para casa.
O ego, então, sempre vai mantê-la separada. Perceber a mim mesmo como separado dos meus irmãos e irmãs pelo fato de estar acima do peso e eles não, ou por eles estarem transtornados pelo fato de eu estar acima do peso, é a forma do ego de olhar para isso. A outra forma de olhar para isso é a de que estamos todos transtornados, e estamos todos perdidos, e vamos expressar nosso especialismo de formas diferentes. Se você vir isso dessa forma, não vai ver o fato de estar acima do peso como uma interferência, ou como um artifício de separação. Esse então se torna um artifício útil, uma forma útil de você perceber que, apesar do que fizer com seu corpo, você ainda não é separada de ninguém mais, e apesar de toda a comida que está colocando em sua boca, você ainda não é separada de ninguém mais ou de Deus. Você usou isso dessa forma, mas não tem que ser dessa forma.
Judy: Sabe, acho que essa foi uma das lições no Curso que mais me prenderam. Ontem, nós três estávamos falando sobre as causas e maneiras nas quais nos unimos, e eu disse que eu sempre era uma pessoa “causal”. Eu sempre me senti tão separada de todos no mundo que me unia a grupos, ou tentava me envolver em coisas diferentes, pensando que alguém mais tinha algo que eu não tinha. E então, quando eu entrava em um novo círculo de amigos ou em uma nova causa, descobria que não havia nada lá para mim. Eu ainda tinha esse sentimento de vazio, e depois cheguei à lição “Vou me aquietar por um instante e irei para casa”. A lição basicamente diz que esse não é o seu lar – ninguém está em casa aqui. Houve um sentimento de muita satisfação, porque eu sabia que não tinha mais que procurar coisa alguma – que a busca realmente era interna. E, mais uma vez, estabelecer um relacionamento mais profundo com Deus; o que eu não faço o tempo todo, mas sei que é onde a meta realmente está. Eu sei que é isso o que a verdade é para mim. Nós passamos muito tempo basicamente falando sobre isso ontem. Nós falamos sobre o movimento dos direitos civis, e movimentos das mulheres, e entrar em instituições educacionais, conseguir notas. Eu passei por tudo isso. Eu tinha que consegui-lo. Eu tinha que fazê-lo. Essas eram as metas que eu estabeleci. E então, depois de tudo, eu ainda estava de volta no ponto em que tinha começado.
Kenneth: Você ainda está faminta.
Judy: Ainda faminta? Sim. Então, começo a me empanturrar de M & Ms.
Betty: Ou morrendo de fome. Aqui estivemos falando sobre comer demais e comer além, e depois, existem pessoas que se matam de fome; pessoas que, a partir do medo – em alguns casos a partir do medo de que ficarão gordas – se matam de fome e não comem. Elas não aceitam a nutrição e o amor.
Kenneth: Veja, o ego nos pega de qualquer forma: não importa se você se torna anoréxica, ou se simplesmente come o tempo todo. No final, deveríamos realmente pensar na comida como uma expressão de canibalismo, o que realmente é como o ego fez o mundo e o corpo: existe alguma coisa faltando e existe algo lá fora de que preciso, e que vai me preencher. A comida literalmente faz isso. Nós fazemos isso o tempo todo – psicologicamente em nossos relacionamentos, mas a comida é um tipo de expressão literal disso. E, basicamente, qualquer coisa que esteja fora de nós, temos que matar para poder comer. Em outras palavras, para que um corpo permaneça vivo, quer seja um corpo humano ou outro chamado organismo vivo, ele tem que matar outra coisa e ingeri-la – quer esteja matando uma cenoura, ou uma vaca, ou um peixe, ou seja o que for.
Essa atividade contém a memória do que fizemos com Deus[3]. O ego não existe se não ficar sobre a morte de Deus. Então, nós matamos Deus e O comemos, e isso, é claro, é o que é a Eucaristia. Os católicos, na missa, ritualisticamente e no rito da comunhão, comem o corpo de Jesus, para que sua santidade, amor e vida se tornem a sua própria, mas à custa dele. Ele é o sacrifício. É a idéia de ter que matar. O manual para professores diz, em um sentido, que a regra do mundo é “matar ou ser morto” (MP-17.6:11). Esse é o mundo do ego em nossas mentes. Comer alimentos, então, se torna uma memória desse pensamento. Portanto, não é surpresa, novamente, que quase todos tenham questões egóicas em relação à comida. A culpa não é porque comemos algo que estava vivo; a culpa é porque acreditamos ter comido Deus, simbolicamente é claro, porque no início, não havia corpos. O ego nos diz que nós matamos Deus. Nós O roubamos, e então, sobre Seu corpo morto construímos nosso reino.
Só para simplificar, as pessoas podem reagir a essa culpa de duas maneiras. Uma é apenas continuar na culpa: quanto mais culpado eu me sinto, mais tenho que encobrir toda a dor. Eu simplesmente continuo fazendo as mesmas coisas que me tornam tão culpado. As pessoas que são anoréxicas, ou as pessoas que simplesmente não comem muito porque têm medo de aumentar 2 centímetros na cintura, ou 2 quilos na balança, estão passando pelo que chamamos de “formação reativa”. Elas fazem o oposto: elas tornam o “pecado” do canibalismo real e então dizem, “Eu não faço isso, e vou provar a você, ao mundo e a Deus que não o faço, porque sou magro. Se eu fosse gordo, isso seria uma prova. Eu estaria andando por aí, dando testemunho ao fato de que sou um canibal vivo: fui eu que roubei Deus. Mas, se eu puder andar por aí magro o tempo todo, então, Deus não pode apontar o dedo para mim; Ele vai apontar o dedo para as pessoas gordas. Aí, eu magicamente espero que por não comer e por continuar magro, vou me salvar da ira de Deus e provar a Ele que não sou o culpado. As pessoas que têm que fazer isso são tão gordas quanto aquelas que o são fisicamente, porque elas são muito culpadas. É a culpa que é o sobre-preso, a obesidade. Portanto, dizer que eu quero ser magro é uma forma de dizer que eu quero ter a ilusão de ser inocente. Isso é sempre medido pela forma, e é por isso que nunca funciona.
Susan: Então, é por isso que queremos ser magros, basicamente; para termos a ilusão de não sermos os culpados. Eu não faço isso; outra pessoa sim.
Kenneth: Sim, e eu estar acima do peso, então, se torna um símbolo: eu canibalizei; eu roubei algo de fora e coloquei dentro de mim.
Susan: Isso é interessante porque nos leva de volta a outra coisa que você disse, e eu gostaria de mencionar novamente: por que as pessoas atacam as pessoas gordas, por que a sociedade tornou a gordura algo ruim. Você disse algo sobre atacá-la porque não queremos vê-la em nós mesmos. Você poderia falar disso outra vez?
Kenneth: Basicamente, isso iria se encaixar muito bem no que acabei de dizer. O cerne do sistema de pensamento do ego é o canibalismo. Nós canibalizamos Deus, e, quando o Curso fala sobre os relacionamentos especiais, ainda que não use a palavra “canibalismo”, é disso que está falando – que nós arrancamos a verdade de si mesma (T-16.V.10-11). Nós acreditamos ter roubado Deus e ter roubado uns dos outros. E se esse é o cerne do sistema do ego, é aí que nossa culpa está. Então, nossa culpa é baseada em nosso canibalismo, e aí, nós vivenciamos isso na forma, no corpo. Depois, nós fizemos um corpo que literalmente tem que canibalizar para poder sobreviver. Nós, portanto olhamos torto para os assim chamados primitivos que são canibais físicos, comendo carne humana. Mas é isso o que todos nós fazemos. Quer seja carne humana, carne animal, carne vegetal, ou seja o que for. É isso o que fazemos. E é aí que a culpa está. A única forma do ego poder sobreviver é roubar continuamente de Deus. Esse pensamento egóico então é incorporado em um corpo, o que significa que a única maneira do corpo egóico poder viver é roubar continuamente de outros corpos. E uma vez que é isso o que a comida faz, se eu tiver excesso de peso, essa é a prova de que sou a culpado. Mas todos nós sentimos isso, quer pesemos 45, 90 ou 226 quilos. Eu me sinto culpado porque roubei de Deus. Mas, se eu sou magro, tenho a ilusão de que sou inocente disso. E vejo você andando por aí com 115 quilos e digo, “Ah, meu Deus, essa é a prova; a prova de que eu não fiz isso”. E então, eu odeio você. Parte de mim está tentando se livrar disso, então, eu me sinto muito bem por você ser aquele que Deus vai punir. Mas, bem lá no fundo, sei que você está exibindo meu pecado diante de Deus, e, em algum ponto, Deus vai me encontrar.
Acho que essa é uma das razões pelas quais muitas pessoas nos Estados Unidos transformaram Nixon em um vilão durante sua gestão – porque ele foi pego. Seu erro foi em relação às fitas e ao arrombamento, e tudo o mais, porque todos roubam e trapaceiam – esse é o mundo do ego. Mas ele foi pego. E ele foi pego de tal forma que teve que deixar a presidência. Esse era o tanto que ele era mau. Nós o odiamos porque primeiro vimos o pecado nele. Mas o ódio real é que ele expôs isso para todos nós. E é por isso que odiamos todos os estupradores e todos os criminosos, e todos os que trapaceiam, e todos os rombos financeiros que sofremos com o comércio interno, títulos falsos, e tudo o mais – porque eles estão mostrando o que está profundamente dentro de todos os outros. E eu tentei tão duramente manter isso oculto. Então, eu emagreço, me mantenho magro, e estou em ótima forma, parecendo tão inocente. Aí, você passa na minha frente, explodindo de todos os lugares da sua roupa, e a gordura é muito protuberante – e, meu Deus, sou eu mesmo que estou vendo em você, e a odeio por isso.
Susan: Então, me diga por que em nossa sociedade americana as mulheres estão ficando mais magras? É popular nos movimentos femininos culpar os designers por isso, porque eles são tão gananciosos que só querem pessoas famintas em suas roupas. Mas isso é apenas realmente a superfície. O que está realmente acontecendo? Se você olhar para a moda hoje, em 1990, vai perceber que tem que ser muito mais magro do que tinha que ser em 1988 para usar as roupas que os designers estão agora exibindo.
Kenneth: Isso segue o mesmo padrão: a tentativa de parecer inocente. Então, ser magro é um valor real em nossa sociedade. Nem sempre foi assim. Havia culturas e épocas nas quais ser pesado era visto como um valor. Olhe para uma mulher nas pinturas de Rubens: elas são todas um pouco corpulentas, e isso era visto como algo desejável.
Judy: Durante os anos da Depressão, você sabe, isso era sinal de prosperidade.
Kenneth: É útil ver que isso é puramente relativo. Em outras palavras, é como você olha para isso, que é o ponto central do Curso, obviamente. (veja, e.g., T-21.V.1; T-22.III.3-8). Então, enquanto as formas mudam, o significado é sempre o mesmo. O significado é que eu decido qual forma vai provar que eu sou inocente, e que sou uma boa pessoa. Atualmente, uma das formas favoritas em nossa sociedade é ser magro. Então, a atração, a necessidade e a obsessão em estar magro é para dizer, “Eu sou inocente”.
Susan: Então, pelo fato de estarmos pedindo às mulheres para serem cada vez mais magras, nossa sociedade está se sentindo mais culpada, a culpa sendo só uma forma de dourar a pílula? Poderíamos fazer essa comparação?
Kenneth: Penso que existe um perigo em sugerir que nossa sociedade está ficando mais culpada – não estou certo de que esse é o caso. É apenas que a forma muda, e agora, a forma na qual vou demonstrar minha inocência é sendo magro. Durante a Depressão, mais uma vez, a forma na qual minha inocência seria manifestada seria sendo pesado, porque ser magro significaria que não tinha qualquer dinheiro e, em última instancia, significaria que Deus me puniu. Então, isso acaba se tornando que vou provar que Deus me ama porque sou gordo ou pareço realmente saudável. Isso prova que eu tenho dinheiro, prova que Deus não me puniu e arrancou de mim tudo o que era meu – da forma que Ele fez com Jó, por exemplo. É por isso que a história de Jó é uma história tão fantástica sobre o deus do ego, não o Deus real. Deus tira. Deus dá a você tudo, e depois Ele tira de você. Então, ter todo o meu dinheiro, e depois o perder em 1929, prova que sou um fracasso. O que roubei de Deus, Ele agora roubou de volta de mim. Ele me encontrou. Levou muito tempo, mas Ele me achou, e descobriu onde eu escondi todas as jóias e tudo o que roubei Dele. Ele tirou tudo de mim, e agora, não tenho nada. Portanto, ser magro prova que sou o culpado e que Deus me puniu. Assim, durante aquele período, a maneira de provar que Deus não me puniu – Ele puniu você – era eu ser gordo. Isso significaria que era próspero, o que significaria que não perdi meu dinheiro, o que significaria que Deus não o roubou de mim. Estou fora da mira. Em nossa época atual é diferente, mas é a mesma idéia.
Susan: Poderíamos dizer então que o que estamos fazendo é simplesmente seguindo esse sistema de pensamento até sua conclusão natural? Quero dizer, um ano você é magro, então, você tem que ser menos culpado, e aí quer ser um pouco mais magro no ano seguinte, talvez. Nunca estamos felizes com a comida; nunca vamos ser felizes com nossos corpos. Nunca vamos ser magros o suficiente; nunca vamos ser voluptuosos o suficiente. É por isso que existe a cirurgia plástica e todas essas coisas.
Kenneth: Certo. Nunca vamos ter o corpo perfeito. O que todos querem, quer seja um homem ou uma mulher, é terem um corpo perfeito. E você decide o que é perfeito. Então, em uma época, é ser magro, em outra, é ser gordo. E é um corpo perfeito porque quero negar o que o corpo realmente é. O corpo é o símbolo de que eu roubei Deus, que eu sou o maior pecador no mundo. O corpo, portanto, tem que ser imperfeito, o que obviamente acontece porque está sempre ruindo. O corpo tem que ser imperfeito porque vem de um pensamento imperfeito. Então, o que eu quero fazer é magicamente negar o pensamento imperfeito, porque é daí que vem toda a minha dor e miséria e culpa. Eu nego isso dizendo, “Mas veja, eu sou perfeito. Eu finalmente consegui fazer do meu corpo o que ele deveria ser; é o tamanho perfeito, a largura perfeita, o peso perfeito, a cor perfeita, o perfeito isso, o perfeito aquilo, e assim por diante. Eu finalmente fiz isso. Provei que sou inocente”. E então, no dia seguinte, eu levanto e algo ruiu. Eu tenho um resfriado, ou engordei um quilo, ou surgiu uma espinha, ou meu cabelo está ficando um pouco grisalho – e isso significa que Deus me encontrou. Minha defesa não funciona e não sou perfeito. Isso me leva diretamente de volta ao pensamento imperfeito, que é o de que sou culpado. E é por isso que não tem fim.
Judy: Ken, ao falar com Susan e Betty ontem, disse a elas que a maior parte da minha vida eu fui magra, e que é só recentemente que estou tendo um problema com meu peso, e eu disse que odiava a mim mesma tanto quanto odeio agora, senão ainda mais, quando era mais magra. Mas, no entanto, existe algo que simplesmente me mantém presa ao corpo. Eu meio que entrei nesse comportamento obsessivo também, porque estou evitando fazer outro trabalho que é muito mais importante do que me focalizar no meu corpo.
Kenneth: O corpo, é claro, é a grande distração, e é por isso que o ego o fez. É uma distração maravilhosa. Nós ou pensamos que ele é a salvação ou pensamos que é o inferno. E a salvação realmente vem quando reconhecemos que o corpo não faz qualquer diferença. O que importa é o propósito que damos a ele. Então, você poderia ser gorda ou ver a si mesma como gorda e não ficar aborrecida com isso, e ser grata porque essa é uma sala de aula na qual poderia aprender que o seu corpo não é quem você é (Veja e.g., T-19.IV-B.10,14).
Susan: Isso me faz voltar a outra pergunta que estive guardando, que você citou mais cedo – a idéia de que quando a culpa se vai, a gordura se vai. Isso também é um pouco duvidoso para mim, e me deixa um pouco nervosa.
Kenneth: Quando a culpa se vai, a obsessão com a gordura se vai – é isso que você quer. Você quer estar sem culpa, o que obviamente então significa estar sem a obsessão pela gordura. Mas o que você faz é estabelecer isso em sua mente de tal forma a provar que Jesus está errado.
Susan: Então, para mim, manter a gordura vai significar que isso não funciona: Jesus não está comigo, não importando quantas vezes eu peça a ele para se unir a mim; isso não vai funcionar para mim.
Kenneth: Sim, você quer isso do seu jeito. Não apenas você, mas todos. Nós queremos a salvação do nosso jeito. Basicamente, queremos ter nosso bolo e comê-lo. Queremos ter Deus, mas queremos ter Deus em nossa própria pequena caixinha. E então, você quer ser sem culpa, mas também quer estar sem a gordura – o que significa que ainda está tornando o corpo real, ainda está tornando a gordura real, todos os quais significam que ainda está presa.
Susan: Então, tão assustador quanto possa parecer, isso poderia ser parte do meu processo de perdoar a mim mesma – uma vez que tenho tal ódio intenso da gordura no meu próprio corpo –: aprender que posso ser gorda, mas pacífica também. Eu odeio pensar nisso.
Kenneth: Ah, sim. Acho que essa seria uma lição maravilhosa. Você pensa que não quer essa lição porque sua gordura é um grande problema. A razão real pela qual você não quer essa lição é que você vai realmente se sentir pacífica – é isso que você teme. Existe aquela maravilhosa seção no texto, “O medo da redenção”, onde Jesus diz que nosso medo real não é da crucificação: nosso terror é da redenção (T-13.III.1-5). É disso que você está realmente com medo: se você liberar sua obsessão em relação à gordura, vai ser feliz. E então, para proteger a si mesma de ser feliz, você continua enlouquecendo a respeito da comida e do seu corpo. Isso é estabelecido para que você nunca se sinta feliz, o que é exatamente o que seu ego quer.
Betty: Você estava falando sobre o corpo perfeito. Eu adorei a imagem de Susan de que quando você morre e finalmente vai ver Deus, lá está Ele... corpulento, ondulando em camadas de gordura. Ah, meu Deus, eu poderia ter sido gorda esse tempo todo – e feliz. Eu queria ser magra e a gordura era tudo o que realmente é!
Kenneth: E feliz. Pense em todas as estátuas do Buda gordo. Nós fazemos Deus à nossa própria imagem, obviamente, mas a idéia seria a de que você poderia simplesmente ser tão feliz nesse mundo estando acima do peso, quanto abaixo do peso ou magra.
Betty: Temos falado sobre toda a nossa insatisfação com o corpo, quero dizer, se os cabelos são crespos ou lisos, ou se são longos ou curtos, ou se faz maquiagem ou não, ou se usa tênis, ou seja o que for.
Kenneth: Tudo é a mesma coisa. Nós nos identificamos com nossos corpos, e em um sentido, o objetivo do ego é o mesmo que o do Espírito Santo, mas termina de forma totalmente diferente. O objetivo do Espírito Santo, obviamente, é que sejamos sem culpa. É isso que o ego nos diz que é o seu objetivo para nós também. Ele nos diz que vamos ser sem culpa. Seu objetivo subjacente, seu verdadeiro objetivo, é claro, é nos manter culpados. Mas ele nos diz que seu objetivo é que fiquemos sem culpa, e então, ele pega a culpa em nossas mentes e a projeta no corpo. Então, nós dizemos que o corpo é o problema – agora, temos algo mais tangível. O que realmente acontece é que a culpa na mente permanece lá. Então, agora a culpa está no corpo, e o ego diz, “Bem, agora vou tornar seu corpo perfeito. E depois, você se sentirá sem culpa e vai se sentir maravilhoso”. Uma das formas principais disso – e é por isso que estamos aqui hoje – é a crença em que o que vai me deixar sem culpa e o que vai me fazer sentir bem é ser magro. E aí, ouço o plano do meu ego para a salvação, e é isso o que ele é: sua tradução é, “Vou ser magro”. Então, eu luto e luto para me tornar magro. O ego está sempre preocupado com o corpo. A culpa em minha mente repousa muito segura e feliz, e nunca é tocada.
Susan: Você sabe, é muito difícil ver que nós projetamos em nossos corpos da mesma forma que projetamos nas pessoas. Se eu ficar transtornado com algo que Betty fizer, se eu a acusar de ser egoísta e ficar mesmo transtornada, posso ver que projetei em Betty uma auto-acusação de ser egoísta, e a pessoa que tenho que perdoar é a mim mesma. Mas, quando fazemos isso com nossos corpos, uma vez que nos identificamos apenas como corpos, é muito difícil entender que estou projetando no meu corpo. Quando estou acusando meu corpo de não poder ser amado pelo fato de ser gorda, é apenas outra projeção, como se eu estivesse fazendo isso com Betty.
Kenneth: Não é diferente, porque seu corpo está fora da sua mente tanto quanto o corpo de Betty. Não faz diferença.
Susan: Isso é mais difícil de ver para mim.
Kenneth: Sim, mas essa é a saída para você: perceber que você está ajeitando tudo para que sempre se sinta culpada, e então, possa culpar outra pessoa. Em última instância, você vai culpar a Deus por isso. Em um sentido, você escreveu as regras e tem todas as cartas, porque você poderia controlar se o seu corpo ganha peso ou não. Se o seu propósito é provar que Deus é um mentiroso e que você é um fracasso, você poderia fazer isso porque estabeleceu as regras para que vá ganhar peso e, portanto, sempre vai ganhar peso.
Susan: Você vai falar sobre isso? Eu ouvi você dizer antes que a gente não engorda por causa das calorias na comida, mas por causa de uma decisão que tomou.
Kenneth: Certo – assim como fumar não lhe dá câncer: a culpa lhe dá câncer. Uma decisão de ser culpado na sua mente é o que lhe dá câncer. É a mesma coisa. Você ganha peso porque sua mente dá ao seu corpo uma instrução que diz, “Ganhe peso, porque é isso que vai provar que você é feio, sem valor, pecador e separado”. Como Betty continua dizendo, a comida mantém você separado. Ela certamente mantém você separado do seu Ser real. Ela mantém você separado do Amor de Deus em você. Mantém você separado de Jesus porque você o culpa. E o mantém separado das outras pessoas porque está com muita vergonha de si mesmo. E assim por diante. Ganhar peso, então, vem do desejo de ser separado – um desejo de culpar a si mesmo, um desejo de ser culpado. Foi a mente, a mente egóica, que fez o corpo e as leis do corpo. Agora, uma das leis do corpo é que se você comer cinco sundaes com calda de chocolate quente, vai ganhar peso. Você vai ficar um pouco doente também, mas vai aumentar seu peso. É isso o que faz você ganhar peso. É a mesma idéia que dizer que se eu levantar esse relógio e deixá-lo cair, ele vai cair até o chão por causa da lei da gravidade. Ele não cai por causa da lei da gravidade – não existe lei da gravidade[4]. A mente fez a lei da gravidade que diz que se eu segurar o relógio e o jogar, ele vai cair. Mas, se minha mente mudasse essa lei, se minha mente mudasse o que quer, então, eu podia soltar o relógio e ele iria flutuar no ar. Ele não cai por causa da lei da gravidade; ele cai porque nós fizemos a lei da gravidade e nos colocamos sob seu domínio.
Susan: É por isso que algumas pessoas podem comer quantidades absurdas de comida e não ganharem peso, e outras comem pouco e ganham peso.
Kenneth: Sim – porque foi assim que nossas mentes foram estabelecidas. Então, aqueles de nós que têm sobrepeso se sentem culpados e terríveis porque nós comemos e ganhamos peso, e existe outra pessoa que come e não engorda nada. Não aceitamos a responsabilidade por termos feito a nós mesmos dessa forma. Eu poderia perceber, no entanto, que fiz a mim mesmo dessa forma para que pudesse me sentir culpado em relação ao que estou fazendo. Então, o que quero mudar não é a aparência do meu corpo; o que eu quero mudar é como minha mente pensa (T-21.in.1). Tudo está na minha mente: eu engordo quando como sundaes com cobertura quente porque eu programei a mim mesmo dessa forma.
Susan: O sundae é o vilão para mim.
Kenneth: Sim, ele é o vilão para você porque você estabeleceu o mundo em termos de alimentos bons e maus. O que você realmente fez foi projetar no mundo e na comida uma divisão que está na sua mente. Existe o bem e o mal em você; e a divisão final é as duas facções que guerreiam entre si na mente: o ego e o Espírito Santo. Meu ego é bom e o Espírito Santo é mau. Mas tudo é visto em termos de dicotomia e opostos. Essa é a divisão que você colocou no mundo: existem os bons e os maus alimentos. Então, existe uma Susan boa e uma Susan ruim. Existe a Susan boa quando ela come comida boa, e a Susan ruim quando come comida ruim.
Betty: Hoje em dia, as teorias vigentes sobre vícios vêem o comer compulsivo como evitar os sentimentos. Eles falam sobre sentimentos agora. Então, você está falando sobre sentimentos de culpa; eles falam sobre sentimentos de dor e perda. É tudo a mesma coisa.
Kenneth: Sim, é basicamente tudo a mesma coisa. Eu acho que o Curso leva isso ainda um passo adiante. Comer é uma maneira de bloquear os sentimentos. Eu estou ansioso, e então, bloqueio isso. Eu vou me empanturrar de camadas de comida, camadas de álcool ou camadas de drogas, ou qualquer que seja o vício – dinheiro, posses, ou sexo. Qualquer que seja a obsessão, isso vai encobrir a ansiedade e a dor. Então, nesse sentido, isso seria similar.
Betty: Podemos falar sobre a ansiedade e a dor? Eu disse antes que se você parar de comer, então, vai realmente entrar em contato com um pouco daquela culpa e depois olhar para isso, e vai se libertar para realmente lidar com isso junto com o Espírito Santo. Mas agora vamos falar nesses termos: estou fazendo isso para aliviar a ansiedade, e não tenho que sentir dor, e não tenho que... Então, o que são os sentimentos?
Kenneth: Uma das coisas que o ego tem feito é tornar tudo muito, muito complicado. Existe apenas um sentimento na mente, que é a culpa – ou nós poderíamos usar a palavra “medo”. Você poderia falar sobre sentimentos de ansiedade, sentimentos de pânico, sentimentos de inadequação, sentimentos de insegurança, etc., etc.; mas todos eles basicamente vêm da mesma coisa. É para isso que não queremos olhar. O que o ego faz é pegar os sentimentos de culpa ou a crença na culpa que está na mente, transferi-los para o corpo, e depois teremos certos sentimentos no corpo, quer seja no corpo físico ou no corpo psicológico (a personalidade da pessoa). Então, é disso que temos que cuidar (T-18.VI.2-6; T-18.IX.4-5).
Veja, o ego sempre nos leva cada vez mais longe do lugar onde o problema está. O problema, em última instância, é a culpa na minha mente: eu me sinto não-merecedor do Amor de Deus, porque acredito que me separei Dele. Eu transfiro isso para o meu corpo, e depois me sinto mal, por exemplo, porque fui privado quando era criança. Esse sentimento emocional de ter sido privado como criança não tem nada a ver com os meus pais; em última instância, ele tem a ver com o que eu fiz com Deus. Isso é traduzido diretamente no sentimento corporal de vazio: existe uma falta em mim e eu tenho que enchê-la de comida. Então, a comida se torna o significado simbólico do amor, o que obviamente acontece. Assim, eu me sinto privado de amor, em falta de amor, e aí, tenho que encher meu corpo de amor, que é a comida. Eu não quero lidar com o sentimento de dor de que meus pais não me amaram, então, simplesmente me encho de comida. Mais uma vez, como eu disse no início, a cada vez em que ingiro um bocado de comida, estou crucificando meus pais e dizendo, “Se vocês tivessem me amado e se tivessem sido sustentadores como deveriam, então, eu não teria que me fartar e parecer tão feio e gordo – é tudo sua culpa”. Nesse sentido, o que as pessoas estão falando é verdadeiro: a comida é uma defesa. É uma defesa contra olhar para mim mesmo.
Agora, onde o Curso iria diferir é em dizer contra o que a comida é uma defesa: não é o que aconteceu há quarenta anos, quando meus pais não me deram amor suficiente. Isso é uma defesa contra uma decisão que estou tomando nesse exato instante. Mas que isso é uma defesa é verdade – comer demais é uma defesa, assim como comer de menos é uma defesa. É uma forma de nos manter longe de sentimentos ou pensamentos que estão sob isso. Mais uma vez, o Curso redefine o que esses pensamentos são.
Betty: Você acabou de equacionar culpa a medo. Poderia apenas falar sobre isso um minuto?
Kenneth: Basicamente, como você sabe, eu falo sobre o pecado, culpa e medo. Nós nos sentimos pecadores porque nos separamos de Deus. Nós nos sentimos pecadores por causa do que fizemos, e depois ficamos com medo da punição de Deus (veja p.2 acima). Nós falamos sobre eles como se fossem entidades distintas. Essa é uma forma fácil de falar sobre eles, porque nossas mentes estão orientadas a pensarem em termos lineares. Na realidade, é tudo a mesma coisa. É uma constelação do mesmo pensamento. O Curso com freqüência vai de um lado para outro entre o pecado e a culpa, ou a culpa e o medo. E então, foi isso realmente que fizemos. A seção “As duas emoções” fala sobre o medo e o amor: “um tu fizeste, o outro foi dado a ti” (T-13.V.10). Então, Deus nos deu amor e nós o substituímos por medo. Mas você pode com a mesma facilidade usar a palavra “culpa”. E basicamente não é uma emoção, ainda que essa seção fale sobre emoções. O amor certamente não é uma emoção. O Amor de Deus não é uma emoção como a conhecemos. E o medo realmente é um pensamento. Nós o experienciamos como uma emoção porque os pensamentos são traduzidos em experiências corporais para nós pelo ego. Então, eu sinto medo e sei o que é o medo, e nós falamos sobre o medo como uma emoção. Mas, em última instância, ele é um pensamento. Ele é o pensamento de estar separado de Deus e o pensamento de ser punido. Então, eu sinto minha adrenalina aumentar e me sinto muito ansioso, e sinto que tenho que minar o sentimento ou sufocá-lo – escapar dele, etc. Mas é basicamente um único pensamento.
Susan: Em termos do que Betty acabou de dizer, não existe mágica também. Embora não exista nada errado com ela, não existe mágica para chegarmos a esses sentimentos. Em outras palavras, o que Betty está dizendo é que o pensamento prevalente na teoria sobre os vícios é que você está sufocando os sentimentos, e a melhor coisa a se fazer é parar de sufocá-los: lidar com os sentimentos. Mas isso é uma armadilha também. Não existe mágica em lugar algum. Quero dizer, realmente não importa. Poderia funcionar para você; poderia ser útil, mas não é o caminho mais certo para se fazer isso.
Kenneth: Isso mesmo.
Susan: Uma vez que todos esses sentimentos estão representados em tudo o que fazemos de qualquer forma, e é tudo apenas culpa, então, a única coisa que “funciona” é convidar o Espírito Santo a entrar. É isso o que você está dizendo?
Kenneth: Sim, absolutamente certo. Esse é o ponto de partida: reconhecer que todos os nossos problemas vêm da culpa, e que a culpa deriva da crença em sermos separados de Deus. Esse é o problema. O Curso diz de novo e de novo o quanto isso é simples – existe um único problema, e uma única solução. O problema é a separação, e a solução é o Espírito Santo (LE-pI.79,80). O que nós fazemos é pegar essa culpa, que é abstrata, e que é o pensamento profundamente enterrado em nossas mentes, e depois projetá-la no corpo. A forma que a culpa assume – que estamos discutindo especificamente aqui – é a forma de excesso de peso e comer demais. Eu me sinto culpado, e então me sinto gordo e feio. E isso prova para mim o quanto sou sem valor e culpado. Se eu pudesse sempre ter claro que o problema não é o número na balança pela manhã, mas ao invés disso, que eu me sinto separado de Deus, e se eu pudesse continuar mantendo isso em mente, então, a solução não seria baixar o número na balança, mas convidar o Espírito Santo para olhar para o problema comigo. Esse é sempre o ponto de partida. Por exemplo, eu posso convidá-Lo para tomar um sundae de calda quente comigo, e depois me sentir bem sobre isso e bem comigo mesmo também. Eu iria me sentir bem a meu respeito por causa da Presença Amorosa que chamei à minha consciência. É isso o que eu quero. Então, o Espírito Santo me ajuda a olhar para minha obsessão com a comida e para minha fome voraz, e me diz que isso não é um grande problema: “Sua fome real é por Mim, e estou bem aqui com você. Eu sou o que você quer, não o sundae com calda. Mas, até você poder Me aceitar e aceitar o Meu Amor, vou me unir a você ao comer o sundae”.
Helen costumava levar Jesus com ela quando ia fazer compras. Ela era obcecada com compras. Ela também era obcecada com comida, mas resolveu o problema sendo muito restrita consigo mesma. Helen sempre sentiu que Jesus ia com ela e lhe dizia onde fazer compras. Era reconfortante para ela sentir que ele não a estava condenando nem julgando. E ele nem uma vez disse a ela para não fazer compras, até muitos, muitos anos depois[5].
Uma tarde, eu me lembro de ter saído do Centro Médico para ir fazer compras. Nós costumávamos ir pela Quinta Avenida até a Lord & Taylor e a Altmans, e então íamos a todas as lojas de sapatos da Avenida 34. Esse era o nosso ritual. Naquele dia, Helen disse, “Ele me disse” (ela nem sempre dizia “Jesus”), “que eu não deveria mais fazer isso – que não era mais uma coisa boa para mim”[6]. Agora, isso aconteceu depois de muitos e muitos anos. Desse ponto em diante, nunca mais fomos fazer compras – certamente não aquele tipo voraz e obsessivo de compras. Mas levou muito, muito tempo. E sua experiência, que era realmente importante para ela, era a de que Jesus não a condenava porque ela estava usando suas roupas e suas compras para evitá-lo. Era óbvio que era isso o que ela estava fazendo. Iríamos passar várias horas no sábado indo a todas essas lojas sem nunca encontrar qualquer coisa, apenas para – no final do dia – passarmos meia hora rezando junto com Jesus. Era quase como se ela tivesse que fazer todas essas coisas primeiro, para que depois pudesse passar vinte minutos ou meia hora com ele. O dia todo estava destinado, em certo sentido, como uma distração em relação a ele, e ao mesmo tempo, era sua forma de fazer transigências e dizer, “Bem, vou lhe dar um pouco de tempo depois, mas você vai ter que me dar várias horas”.
Susan: Estamos fazendo a mesma coisa em relação à comida.
Kenneth: Exatamente.
Susan: Vamos a todos os restaurantes, comeremos todas as comidas, teremos todas as refeições e talvez depois...
Kenneth: Então, nós dizemos a Jesus, “Se eu tiver ganhado qualquer peso, então, ao inferno com você; não vou deixá-lo de forma alguma”. A idéia é levá-lo com você, quer “ele” seja Jesus ou o Espírito Santo ou Deus – qualquer termo que você vá usar. Isso a capacita a não se sentir tão culpada. E esse é o propósito. A idéia é sempre manter em mente qual é o propósito – e ele não é você ser magra. O propósito é você se sentir bem sobre si mesma. Mas se sentir-se bem sobre si mesma estiver ligado ao tamanho da sua cintura, então, você estará acabada. Por outro lado, se sentir-se bem sobre si mesma estiver ligado à Presença do Espírito Santo em sua mente, então, o fim será feliz. Essa Presença é constante, e nunca muda. Essa é a idéia. Esse é o valor de abrir espaço para Jesus estar com você, quer seja comendo “boa” comida ou comida “ruim”. Isso é realmente o que você tem que aprender: que ele vai estar com você quando você comer saladas, e vai estar com você quando você comer sundaes com calda quente. Essa é a maneira de ensiná-la que isso não faz qualquer diferença: “Meu amor por você não depende de você ser boa ou má”.
Susan: É como uma das primeiras lições do livro de exercícios que diz para olharmos ao redor do quarto, mas não excluirmos coisa alguma (LE-pI.1,3; LE-pI.2.2). Você está dizendo a mesma coisa.
Kenneth: Exatamente a mesma coisa.
Susan: Simplesmente soa muito simples. Não fácil, mas agora, a cada passo do caminho, não importando qual ele seja, não importando o que você está fazendo, não importando qual julgamento você fez sobre isso, convide o Espírito Santo a entrar; ponto final. Fim da história.
Kenneth: É isso o que você faz. Então, olhe com Ele, dê um passo atrás e O observe enquanto você se farta, ou enquanto come uma salada com apenas 150 calorias. Dê um passo atrás e observe com Ele enquanto faz isso. É isso que vai ajudá-la a começar a colocar uma distância entre você mesma e a comida, e mudar o propósito da comida. A comida então se torna santa, em vez de um símbolo da sua não-santidade, da sua culpa, da sua pecaminosidade, do seu fracasso. Ela se torna um símbolo lhe dizendo que esse é o caminho através do qual Jesus ou o Espírito Santo vai lhe ensinar que Ele a ama (LE-pII.5.4; T-8.VII.3).
Susan: Mesmo quando você está se fartando.
Kenneth: Mesmo quando você está se fartando. Não faz qualquer diferença.
Susan: Porque você está fazendo isso com o Espírito Santo.
Betty: O Espírito Santo usa tudo. Com o Espírito Santo, tudo pode se tornar uma lição de perdão.
Kenneth: Certo. Esse propósito de perdão então se torna a importância de tudo no mundo. Na realidade, você deveria pensar sobre isso muito literalmente em termos de comida. Existe outra linha no Curso que diz que o Espírito Santo nunca tira seus relacionamentos especiais de você; Ele os transforma (T-17.IV.2; T-18.II.6). Ele nunca vai tirar os sundaes com calda de você – Ele vai transformar seu significado. E, quando o significado muda, com o tempo, a fome por ele vai mudar. A fome pelo sundae com calda é para punir a você mesma, e manter Deus longe, e para manter seu verdadeiro Ser longe de você – esse é o “verdadeiro” significado disso. Essa é a fome por tudo isso. Quando você leva Deus com você, então, a coisa toda muda e é aí que a ânsia se vai. Mas você não pode sabotar isso por depois pular sobre a balança.
Susan: Mas se você subir na balança, convide o Espírito Santo mais uma vez. E, também, quando você ficar transtornado pelos números terem subido, convide o Espírito Santo mais uma vez, e não importando aonde seu ego vá, você o segue de perto com o Espírito Santo bem ao seu lado. Então, simplesmente continua fazendo isso.
Kenneth: Essa é a resposta.
Susan: E então, a única fé pedida aqui, é a fé que se você fizer isso com o Espírito Santo ou com o Amor de Deus, ou a memória de Deus, ou seja o que for, eventualmente, vai se sentir melhor.
Kenneth: Isso mesmo. E então, você pára: eu vou me sentir melhor; não vou ser magro – vou me sentir melhor.
Susan: Então, seu foco tem que estar em se sentir melhor, não em nada mais.
Kenneth: Sim, esse é o objetivo. Como já dissemos, você estabelece o objetivo primeiro. Existe uma seção no texto chamada “Estabelecer a meta”, que explica isso otimamente (T-17.VI). Se o objetivo é ser magro, então, é isso o que consegue, mas não vai encontrar a paz. Se o meu objetivo é ser sem culpa, me sentir bem sobre mim mesmo e sentir o Amor de Deus dentro de mim, então, vou ver o ato de comer o sundae com calda quente como o meio de alcançar esse fim. Se eu vir o objetivo como o de perder peso, então, vou ver que o objetivo de não comer o sundae é perder peso, e provavelmente vou falhar, porque isso foi estabelecido para falhar. Mas, se eu vir o ato de comer o sundae como o meio de alcançar a meta de ser sem culpa, e comer o sundae com Jesus ao meu lado, vou me sentir sem culpa, e então, venci, e Jesus venceu também. Veja, a sua maneira é que alguém vai vencer e alguém vai perder. Você vai estar certa, e vai provar que ele está errado. Se a meta, no entanto, é que ambos estão certos, e que ambos estão certos porque eu quero ser sem culpa, e esse é o propósito de eu comer – quer seja um sundae ou uma cenoura – então, vou comer, me sentir sem culpa, e dizer, “Realmente funciona”.
Susan: Então esse também seria o propósito da minha gordura. O propósito da minha gordura, porque eu segui você, passei por todos os passos, e estou comendo os sundaes e comendo qualquer tipo de comida, e sou gorda – o propósito da gordura vai provar que eu sou sem culpa: usar a gordura como a lição transformadora de que Deus me ama.
Kenneth: Certo. E a gordura então se torna sua amiga. Existe uma linha maravilhosa no manual para professores que diz, “Não te desesperes, então, por causa das limitações [ele está se referindo às limitações do corpo]. É tua função escapar delas, mas não ser sem elas” (MP-26.4:1-2). Nós podemos traduzir agora em termos de gordura: “Não se desespere, então, por causa das limitações da sua gordura. É sua função escapar dela, mas não ser sem a gordura”. Em outras palavras, é sua função escapar da culpa e da raiva, da falta de esperança, do desespero, inadequação e auto-ódio que você associou com a gordura; mas sua função não é ser sem ela. Isso não significa que você não vai estar sem ela algum dia, mas que essa não é a função. A função é escapar da culpa ou da interpretação que você colocou sobre a gordura. Se for isso que é a lição, então, você será grata à gordura, porque aprendeu uma lição que teria levados milhares e milhares de anos para aprender dentro da ilusão do tempo – que é a lição de que você é sem culpa.
Susan: E então, a intensidade do meu ódio em relação à gordura será a intensidade da minha cura, a profundidade da minha cura, uma vez que eu realmente aprenda essa lição – eu agora seja criada nesse nível. É isso o que você está dizendo?
Kenneth: É isso que estou dizendo.
Susan: Eu nunca pensei que seria feliz por ser gorda. Uau!
Betty: Espere, isso ainda não aconteceu.
Kenneth: Deixem-me ler algo como uma forma de encerrar. É do livro de exercícios, a seção que responde à pergunta, “O que é o corpo?”. Vou ler só uma parte disso. Podemos traduzi-la em termos do que fizemos com o tópico do sobrepeso: nós fizemos o corpo para atacar e manter Deus distante, e nós fizemos a gordura como uma forma de provar que tivemos sucesso. Nosso corpo, então, se tornou um símbolo terrível do nosso pecado contra Deus. O corpo não desaparece e nem o sobrepeso desaparece; mas a função muda, e, por mudar essa função, ou o propósito do corpo, ele então se torna santo. Basicamente, o que fizemos com o corpo é que o usamos para nos identificarmos com nossa culpa e medo, como uma defesa contra o que realmente queremos nos identificar, que é o Amor de Deus ou o Amor de Cristo que nós somos. Aquilo com o que nos identificarmos é o que vai provar a nós quem nós somos. A seção termina com a idéia de que deveríamos nos identificar com o amor e não com o corpo. E então, é possível usar o corpo como o meio de nos lembrarmos de que somos realmente amor, e trazer o Espírito Santo ou Jesus conosco é o que faz isso. Mais uma vez, é tudo uma questão do que o corpo é para nós. Então, vamos encerrar com minha leitura de partes dessa seção do livro de exercícios:
O corpo é uma cerca que o Filho de Deus imagina ter construído para separar partes do seu Ser de outras partes. É dentro dessa cerca que ele pensa viver, para morrer quando ela decair e desmoronar. Pois no interior dessa cerca, ele pensa estar a salvo do amor. Identificando-se com a própria segurança, ele considera ser aquilo que é a sua segurança. De que outro modo poderia ele ter certeza de permanecer dentro do corpo, mantendo o amor do lado de fora?...
O corpo é um sonho. Como outros sonhos, ele às vezes parece retratar a felicidade, mas pode retroceder subitamente para o medo, onde nascem todos os sonhos. Pois só o amor cria em verdade e a verdade nunca tem medo. Feito para ter medo, o corpo tem que servir ao propósito que lhe é dado. Mas podemos mudar o propósito ao qual o corpo obedecerá mudando o nosso pensamento quanto ao quê ele serve.
O corpo é o meio pelo qual o Filho de Deus retorna à sanidade. Apesar de ter sido feito para cercá-lo irremediavelmente no inferno, a perseguição do inferno foi trocada pela meta do Céu. O Filho de Deus estende a mão para alcançar o seu irmão e para ajudá-lo a caminhar pela estrada junto com ele. Agora o corpo é santo. Agora, ele serve para curar a mente que ele tinha sido feito para matar.
Tu te identificarás com aquilo que pensas ser a tua segurança. O que quer que seja, acreditarás que és um com ela. A tua segurança está na verdade e não em mentiras. A tua segurança é o amor. O medo não existe. Identifica-te com o amor e estás seguro. Identifica-te com o amor e estás em casa. Identifica-te com o amor e achas o teu Ser. (LE-pII.5.1,3-5).
[1] Ausência de Felicidade: A história de Helen Schucman e Sua Transcrição do Um Curso em Milagres, 2ª.ed., p. 76-77.
[2] O final do manual para professores (MP-29.3:3) enfatiza como buscar a orientação do Espírito Santo coloca um fim na culpa. Uma vez que escolhemos nos reunir ao Amor de Deus em vez de continuarmos separados dele, somos capazes de finalmente corrigir o equívoco que fizemos no instante original, então, o amor agora toma o lugar do terror.
[3] Lembrem-se novamente da Introdução, e da nossa discussão sobre os princípios metafísicos do Curso.
[4] Estou falando metafisicamente. Na realidade, não existe lei da gravidade, uma vez que não existe universo material. O mundo é simplesmente um pensamento de separação em nossas mentes; um pensamento que está profundamente enterrado em nossas mentes inconscientes, e é compartilhado por quase todas as outras pessoas.
[5] Ausência de Felicidade, 2ª.ed., PP.229-230, 426-27).
[6] Com isso, Jesus quis dizer que Helen agora era capaz de liberar suas defesas contra ele.
Uma Aplicação dos Princípios do Um Curso em Milagres p/Kenneth Wapnick, Ph.D.Traduzido por Eliane
Imagem: internet
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